segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Oh! Rancho de Cabeção - Despedida

Cabeção
Luís Cunha Canas
I
Oh Rancho de Cabeção!
Oh gente da mocidade!
Trago dentro do coração
Uma tão grande saudade ...
II
Nem sabes o que senti
No dia em que te deixei.
Quando me achei sem ti,
Nesse dia até chorei.
III
Muitos ranchos eu já vi
Como tu não há igual
Serás sempre, para mim,
O melhor de Portugal.
IV
Também fui teu companheiro
Nalgumas tardes de glória
Também fui como um guerreiro
Para te dar a vitória.
V
Já não sou teu componente
Mas sou como teu irmão
Quero ser da tua gente
Quero ser de Cabeção.
VI
És rancho das multidões
O rancho da simpatia
Alegras os corações
Que não têm alegria.
VII
De tudo tenho saudades
Tanta ... das tuas cantigas,
Desses alegresrapazes
E das lindas raparigas.
VIII
Eu quando morrer
Ter gravado no coração
O nome de pertencer
Ao Rancho de Cabeção.
IX
Do trajo que eu vestia
E do meu grande cajado
Desses dias de alegria
Já tudo está terminado.
X
Venho dar-te a despedida
Saída do coração
Ai que saudadesquerida!
Adeus Rancho de Cabeção!

Nota:Estas quadras foram escritas por um componente do Rancho que foi trabalhar para Lisboa.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

As Minhas Mãos Calejadas

ILHAS – ARRAIOLOS
António Luís Figueiras “O Poeta Caldas” 67 anos (Ano 1977)

MOTE
As minhas mãos calejadas
Cansadas com produzir
Sofreram tantas noitadas
Que hoje me fazem carpir.
I
Desde a mais tenra idade
Que labuto nesta vida
Travo uma luta renhida
Para viver com dignidade
No campo e na cidade
Andaram sempre empregadas
Quantas vezes esfaceladas
Nas arroteias da serra
Rasgaram o ventre à terra
As minhas mãos calejadas.
II
Lidaram com o arado
Picaram no boi ronceiro
E em cima do sobreiro
Manejaram o machado
Todo o meu sonho dourado
Era amar e construir
Assim posso garantir
Que são dum bom português
Estas mãos que aqui vês
Cansadas com produzir.

“Farrapos da minha vida”
III
Pelos campos dadejando
Ao som de doces cantigas
Ceifei as louras espigas
Que a terra mãe foi criando
A minha enxada gastando
Conchegando as milharadas
Famintas e regaladas
Minguam de dia a dia
Com o rigor da invernia
Sofreram tantas noitadas.
IV
Fui um escravo instrumento
Das aves que rapinando
O suor nos vão sugando
Para seu esbanjamento
Findará este tormento
Quando deixar de existir
Sinto o meu corpo a ruir
É algum cancro decerto
São as chagas em aberto
Que hoje me fazem carpir.

No Monte do Cabidinho

ILHAS – ARRAIOLOS
António Luís Figueiras “O Poeta Caldas” 67 anos (Ano 1977)
I
No Monte do Cabidinho
Num modesto quartinho
Nasceu o Porfírio Caldeiras
Filho de modestos pais
Que viveram entre trigais,
Cheios de trabalhos e canceiras.
II
Nos primeiros anos de infância
Revela ser uma criança
De recursos excepcionais;
Na escola entre os parceiros
Foi sempre dos primeiros
Era o orgulho dos pais.
III
Tirando a quarta classe
Logo no seu peito nasce
O sonho de ser professor,
Mas os pais são os primeiros
Sem recursos financeiros
Que sofrem o dissabor.
IV
Profírio quer estudar
Mas tem que ir trabalhar
Ó prós campos guardar gado,
Pede a protecção a Deus
Pois quer ajudar os seus
Com seu modesto ordenado.
V
Pastando ovelhas no prado
Vê-se encostado ao cajado
Sempre com livros na frente
E uma voz do seu retiro
Diz-lhe: estuda Porfírio!
Pertences à lusagente.
VI
Com sacrifícios sem par
Vai a sua chance tentar
Mas com fé cheio de vigor
O nosso herói lusitano
Tira agora o quinto ano
Mais tarde sai professor.
VII
Não pode parar agora
Porque outro sonho o devora
Que lhe dita o coração
Se um sonho realizastes
Tu que a professor chegastes
E a doutor porque não?
VIII
Renuncia a divertimentos,
Emprega todos os momentos
Só no curso que o consome
Atingiu o seu planeta
Por isso tem uma etiqueta
Que lhe indica agora o nome.

Ouvi Chorar um Operário

ILHAS – ARRAIOLOS
António Luís Figueiras “O Poeta Caldas” 67 anos (Ano 1977)
Quadras feitas no ano de 1937

MOTE
Numa grande capital
Ouvi chorar um operário
Numa rua sobre a lama
Num torturante calvário.
I
Vivia à pouco ainda
Numa casinha modesta
Tendo o coração em festa
Junto a uma filhinha linda
Por uma sina fatal
Penetra no seu casal
Um mal contagioso
Deram-lhe o nome de leproso
Numa grande capital.
II
A sua dor infernal
Lentamente o perseguia
E o pão de cada dia
Foi-lhe faltando afinal
Já sem ter um real
Para pagar ao boticário
Neste país lendário
Que tanto tem brilhado
De miséria rodeado
Ouvi chorar um operário.
III
Já sem os ter que empenhar
P’ra pagar ao senhorio
Cheio de fome e frio
Saía a mendigar
Certo dia vê passar
Um opolente de fama
Pelo seu nome chama
E auxílio lhe pediu
E ao estender-lhe a mão caíu
Numa rua sobre a lama.
IV
Esse burguês retirou
Cheio de orgulho e vaidade
Algema da sociedade
Nem auxílio lhe prestou
Quando a filhinha chegou
Lhe puxa pelo vestuário
Já marcava o calendário
A morte de um desgraçado
Morreu lama abraçado
Num torturante calvário.

O Pobre Trabalhador

ILHAS – ARRAIOLOS
António Luís Figueiras “O Poeta Caldas” 67 anos (Ano 1977)
MOTE
O pobre trabalhador
Um produtor da humanidade
Não lhe ergue um momento
Com honra e dignidade
I
Na cidade ou no deserto
Trabalho cheio de agonia
Sem ter uma regalia
Esse homem puro e recto
Tem o seu lar repleto
De miséria luto e dor
Ele que é um produtor
De tudo o que a terra cria
Cai com fome em pleno dia
O pobre trabalhador.
II
Dedicado e laborioso
Sem honras e desvaneios
Enchendo os cofres alheios
Cai por fim tuberculoso
Esse burguês orgulhoso
Que vive na ociosidade
Cheio de dinheiro e vaidade
Ostenta o seu brasão
E deixa morrer sem pão
Um produtor da humanidade.

Nesta quadra estão os
pedaços da minha vida

III
Sem cessar um instante
É escravo desta forma
Para receber a reforma
Mendiga de monte em monte
Nesse viver inconstante
Ninguém ouve o seu lamento
Já sem forças sem alento
Consegue pegar no malho
É um mártire do trabalho
Não lhe ergem um monumento.
IV
Técnicos e engenheiros
Estudam este problema
Aliviem-no com a sua pena
Ministros e financeiros
Estes são verdadeiros
Erros da sociedade
Deiam a liberdade
A quem tanto se consome
Para os filhos matar à fome
Com honra e dignidade.
Vivia e
Sentia e sofria

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Ó Botas de Um Aldrabão

S. Pedro da Gafanhoeira
Bernardino Barco Recharto, 48 anos (Ano 1977)


MOTE
Ó botas dum aldrabão
Que me fizeram coxear
Trago no pé um calão
Já não as posso aturar.
I
Já fiquei escandalizado
Com as botas delicadas
Ao dar tantas caminhadas
Fizeram-me um calo trilhado
Eu com elas tenho gozado
Fica-me de recordação
Já perdi toda a animação
O causador não sei quem é
Já me lixaram o pé
Ó botas dum aldrabão.
II
Sempre tenho sofrido
E tudo me dá abalo
Com o diabo do calo
Trago o pé tão dorido
Cada vez mais ofendido
Disso não me quero lembrar
Às vezes me fazem arreliar
Quando penso no engano
Ó botas dum real cigano
Que me fizeram coxear.
III
Dóem-me bastante as orelhas
Quando os calos me mordem
Armam tamanha desordem
Atingem-me as sobrancelhas
São piores do que as abelhas
Quando ferroadas me dão
Arrematando fico eu então
A minha grande coxeira
Com a volta da brincadeira
Trago no pé um calão.
IV
Tenho querido obedecer
À reza dos sapateiros
Nada são pantomineiros
Estou agora a conhecer
Querem é então fazer ver
Como sabem trabalhar
Se lhe mando assento deixar
Mais eles o roubam às botas
Hoje tenho as pernas tortas
Já não as posso aturar.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

O Oleiro e a Sua Roda

CARRAPATELO
Francisco Baltazar “”Ti Passinhas” (71 anos) Ano 1977 Analfabeto
I
O oleiro na sua roda
Poucas artes assim são
Todo o dia dá à perna
E é assim que ganha o pão.
II
Faz tarefas e alguidares
Faz cântaros e enfusas
Faz toda a loiça que se usa
E faz bacias p’ra se lavar
Faz tigelas para vidrar
Que até as compõe na moda
O mestre nada o (Encomoda) incomoda
Que a arte dele assim é
Dá milhares de pontapés
O oleiro na sua roda.
III
D’inverso treme com frio
Até tem dor nos braços
Certas horas os pedaços
Até lhe mete fastio
Mas aquele que tem brio
De quem treme faz mangação
Até lhe chama mandrião
Que não se arruma ao serviço
Fiquem certos que é por isso
Poucas artes assim são.
IV
Em vindo o tempo do verão
Quando há muito calor
Já ao barro tem amor
E gosta do fresco na mão
Para dar interesse ao patrão
É assim que se governa
Já não entra na taberna
Que não há tempo a perder
Para ganhar para comer
Todo o dia dá à perna.
V
Trata logo de enfornar
Se tem já a loiça enxuta
Nunca acaba co’a labuta
Se tem barro para coar
Já não pode descansar
Que não tem ocasião
Se tem que fazer serão
Está tratando do forno
Toda a noite põe piorno
E é assim que ganha o pão.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Fundamento "A Rainha Santa Isabel" 7.º Episódio


INFANTE D. AFONSO 104
Soldados e oficiais
Faleceu o nosso Rei
Decerto eu ficarei
Acompanhem os restos mortais
Três dias de luto nacionais
E a vida continua
O funeral sai à rua
Todos vamos acompanhar
Nós vamos todos rezar
Por a alma sua.

MINISTRO CONSELHEIRO 105
À base da nossa lei
Vamos o nosso rei coroar
Vamos-lhe honras prestar
Eis aqui o nosso Rei
Queira assinar e eu assinarei
Queira as vossas ordens dar
Queira vossa Majestade assinar
Para urgente obedecer
Estamos prontos a morrer
Pela Pátria a lutar
(Fala para D. Afonso IV e dá-lhe um papel para assinar)

D. AFONSO IV 106
Sendo eu o novo Rei
Todos devem obedecer
Cada um sua obrigação fazer
E eu também cumprirei
Em breve, melhor salário lhes darei
Para viverem desafogados
Todos são bons soldados
Temos que a Pátria bem servir
Pois cada um pode ir
Aos lugares já destinados.

D. AFONSO IV 107
Juro perante esta coroa
Que cumprirei o meu dever
Sempre bom Rei, hei-de ser
E digna pessoa
Quanto à hora que Deus soa
Todos nós vamos curvar
Deus nos vai abençoar
Eu a todos sou perdão
Cada um para a sua obrigação
Podem retirar.

TODOS 108
Com vossa licença.

D. AFONSO IV 109
Viva Portugal!
(Dizem todos)

MESTRE 110
Foi assim que aconteceu
Segundo reza a nossa história
A Rainha cheia de glória
Título de santa mereceu
Ela muito se compadeceu
Por quem trabalhava e sofria
Tudo pelos pobres fazia
Por todos era adorada
Ainda hoje é lembrada
Rezamos-lhe uma AVÉM MARIA.

BANDEIRA 111
Bandeira querida adorada
Adorada querida Bandeira
É a nossa brincadeira
És a nossa querida amada
Estás ao vento desfolhada
Tens lindas cores que confundem
Dás alegria e saúde
A quem sempre te acompanhar
O Céu é o teu lugar
Cheia de glória e virtude.

MESTRE 112
Terminou o fundamento
Mas vamos mais apresentar
Os fastudos vão começar
Com o seu advertimento
Trazem eles o seu intento
De nos fazer rir um bocado
São rapazes atilados
Fazem rir sem terem graça
O Chupa Torcidas e o Carcaça
São os dois apalhaçados.
(Fala para o Povo, quando o D. Afonso se retira com a mãe).

MESTRE 113
Mas antes de começar
Vou-lhe um pedido fazer
É claro se poder ser
Não vou alguém obrigar
Sempre temos de gastar
Tudo acarreta despesa
Com minha delicadeza
Com minha canoa na mão
Peço a quem tem bom coração
Que nos ajudem com a sua franqueza.

MESTRE 114
Cada um o que quiser dar
Nós vamos agradecer
Temos que este pedido fazer
Temos coisas a pagar
Pensámos então apelar
De cada um uma ajudinha
A lembrança não é só minha
É do grupo em geral
Deitem para a roda o metal
E se quiserem uma notinha.

CANTIGA

ESTRIBILHO
I
Rainha Santa Isabel
Como ela não houve igual
Rainha Santa Isabel (canta o Grupo)
Rainha de Portugal


(canta o Mestre. Se este não tiver muito jeito para cantar, é substituído por outro elemento do grupo) A Rainha Santa foi
Uma santa cá na terra
Vejam na história a verdade
Que sempre evitou a guerra.

ESTRIBILHO
III
Rainha Santa foi
Daquelas mais virtuosas
Era Santa com certeza
Transformou pão em rosas.

ESTRIBILHO
IV
A Rainha está no céu
Em companhia dos anjinhos
Cá reza a nossa história
Com trinta mil carinhos.

ESTRIBILHO
V
A Rainha está no céu
É um ser celestial
É a Rainha da Paz
Abençoa Portugal.

ESTRIBILHO


REI D. DINIS
- Décima do grupo –
Eu era o Rei D. Dinis
Um bom Rei de Portugal
Defendi sempre o edital
De ser cristão o País
Tive um tempo infeliz
Para mim foi como o fel
Meu filho Afonso Manuel
Foi-se contra mim revoltar
Mas eu fui-lhe perdoar
No Grupo da Rainha Santa Isabel.

VASSALO MOR
- Décima do Grupo –

Eu era o Vassalo do Rei
Cumpria a minha obrigação
Sempre de chicote na mão
Algumas chicotadas dei
Sempre nos escravos mandei
Desempenhei o meu papel
O meu nome é Samuel
Aqui e em toda a parte
Guerreiro é a minha arte
No Grupo da Rainha Santa Isabel.

ESCRAVO 1.º
- Décima do Grupo –

Cá estamos a sofrer
Chorando lágrimas sem fim
Aquela Santa para mim
Tanto me veio socorrer
Dá-me comer e beber
Hoje só me tiram a pele
Eu e o meu companheiro Miguel
Vimos o milagre das rosas
Era das Rainhas mais bondosas
No Grupo da Rainha Santa Isabel.

RAINHA SANTA ISABEL
- Décima do Grupo –

Eu tenho bom coração
Toda a gente o deve ter
Ser bom é mesmo um dever
Que temos de obrigação
Sou Isabel de Aragão
Protege-me o Anjo Rafael
Quem ao seu coração apele
Sempre somos correspondidos
Eu atendo quaisquer pedidos
No Grupo da Rainha Santa Isabel.

AMANTE DO REI D. DINIS
- Décima do Grupo –

Aqui já vivo sem medo
E não preciso de Portugal
Trouxe de lá o capital
E vivo aqui em Toledo
Chegámos aqui bem cedo
Já livrámos a nossa pele
Desempenhámos o papel
Eles lá ficam lutando
Eu vou o meu filho amando
No Grupo da Rainha Santa Isabel.


SOLDADO
(Que avisa o Rei D. Dinis)
- Décima do Grupo -

Fiz parte do COMPLOTE
Para lutar contra d. Dinis
Mas eu fingindo me fiz
Eu mostrei o meu bom porte
D. Dinis era mais forte
Que o meu filho Afonso Manuel
Continuo no meu quartel
Espero de ser reformado
Sou um perfeito soldado
No Grupo da Rainha Santa Isabel.

INFANTE AFONSO
- Décima do Grupo –

Fui um filho muito ingrato
Mas estou arrependido
Eu andei mesmo perdido
Eu reconheço de facto
Eu ainda de pouco tacto
Meu sangue era de fel
Mas o Anjo Rafael
Fez de mim outra pessoa
E aquela Santa tão boa
No Grupo da Rainha Santa Isabel.

INFANTE AFONSO
- Décima do grupo –

Eu sou um filho bastardo
Do grande Rei D. Dinis
Fugi para aqui e bem fiz
Poderia ser atacado
Meu pai morreu, está descansado
É o Rei meu irmão, Afonso Manuel
Aqui em Toledo é meu quartel
E sinto-me aqui muito bem
Minha mãe aqui também
No Grupo da Rainha Santa Isabel.

ESCRAVO 2.º
- Décima do Grupo –

A maldita escravidão
Que nunca mais acabava
Todo o dia trabalhava
E só a água e pão
Tratado como um cão
E chicotadas na pele
Eu construí um painel
Enriqueci Portugal
Santa como ela não houve igual
No Grupo da Rainha Santa Isabel.

VASSALO 2.º
- Décima do Grupo –

Eu nos escravos mandei
Em mim também mandavam
Eles muito trabalhavam
Eu muita chicotada dei
Do meu companheiro não sei
Fugi para Israel
Eu sou o José Pincel
Estou sempre disposto
Vivo aqui com muito gosto
No Grupo da Rainha Santa Isabel.

MINISTRO CONSELHEIRO
- Décima do Grupo –

Sou Ministro Conselheiro
De El-Rei D. Afonso Quarto
Para o povo ele é simpático
E eu ganho o meu dinheiro
Da coroa ele foi herdeiro
Desempenha o seu papel
Eu não sou nenhum painel
Faço a minha obrigação
Desempenho esta missão
No Grupo da Rainha Santa Isabel.

BANDEIRA
- Décima do Grupo –
Todos dizemos… Amem
Quando em ti veneramos
Todos nós te estimamos
Tu és o símbolo aí vem
Se algum milagre aparece
É esse o seu papel
É mais doce que o mel
Para a nossa visão
Adoramos-te do coração
No Grupo da Rainha Santa Isabel.

MESTRE
- Décima do Grupo –

A Rainha foi santificada
É a Rainha Santa dos Portugueses
Nós as lembramos às vezes
Em dias de nomeada
Será, será sempre lembrada
E o seu coração tão amável
Com a sua virtude incomparável
Com a sua enorme caridade
Sou mestre desta mocidade
No Grupo da Rainha Santa Isabel.

MESTRE 115
Terminou pois o fundamento
Toda a nossa apresentação
Agradeço do coração
A quem ajudou a gente
Ficámos muito contentes
Com a vossa boa atenção
Vamos retirar então
Temos que ir a outro lugar
Queiram tudo desculpar
Quanto à nossa narração.

MESTRE 116
Agradecer pois nada custa
A quem é bem educado
É recebido em todo o lado
Quem leva a moral à justa
Quem educação ajusta
É digno de ser alguém
Quem praticar qualquer bem
Por Deus será recompensado
A todos muito obrigado
Até para o ano que vem
(Bate a bateria a agradecer)

MESTRE 117
Para cumprir o meu dever
Venho aqui pessoalmente
E pode ouvir toda a gente
O que eu venho a dizer
Venho ao senhor agradecer
Porque estou reconhecido
Da rua nos ter cedido
E da vossa boa gratidão
Muito obrigado patrão
Por atender o nosso pedido

MESTRE 118
Desejo-lhe muita saúde
E à sua senhora também
Desejo-lhe todo o bem
E Deus a ambos ajude
Senhor eu o fiz o que pude
Queira-me então desculpar
Temos que ir a outro lugar
Peço a vossa autorização
Receba um aperto de mão
Muito obrigado. Vamos retirar

FIM
Nota: Quando o Mestre está a agradecer ao
“Dono da Rua”, o Grupo está disposto em duas filas paralelas. Quando acaba o agradecimento, rebenta a bateria (orquestra) e todos os elementos do agrupamento dizem: ATÉ PARA O ANO SE DEUS QUIZER.

Conversa entre o Trigo e a Erva

CARRAPATELO
Francisco Baltazar “”Ti Passinhas” (71 anos) Ano 1977 Analfabeto

Isto é a erva. É o trigo a falar por causa da erva.
Muitas das vezes abafa-o. E dá cabo da serara.
É por isso que o trigo fala:

MOTE
Ó erva tu não és boa
Nunca devias nascer
Eu sou o trigo espalhado
Para toda a gente comer
I
Ó erva tu não devias
Na terra enraizar
Vens ao mundo a brejear
Se t’apanhas regadia
Cresce de noite e de dia
Até mesmo que alguém se doa
Desgraçada da pessoa
Que tu a seara lh’abafas
Até a terra lh´estafas
Ó erva tu não és boa.
II
Se à primavera chegares
É assim que estás contente
Por isso é que há tanta gente
Que te vai a arrancar
Tu queres por força apanhar
Tudo, para mais nada viver
A posse que tu queres ter
Nunca pode ser assim
Há anos que me fazes assim
Nunca devias nascer.
III
Sou a planta mais mimosa
Que neste mundo se cria
Se Deus me dá fantasia
De me ver meu dono goza
Sou planta maravilhosa
De todos sou elevado
Tudo tenho sustentado
Sem mim não podem viver
Quero dar à erva a saber
Eu sou o trigo espalhado.
IV
Se eu um ano não nascesse
O que seria do cristão
Estando um ano sem haver pão
Talvez que tudo morresse
Se eu desaparecesse
Que não me tornassem a ver
Como é que podia ser
Durar isto muito tempo
Se eu dou pão para o sustento
Para toda a gente comer.

AGORA RESPONDE A ERVA

MOTE
Tu és trigo e eu sou erva
Nós podemos ser iguais
Tu sustentas os humanos
E eu sustento os animais.
I
Ó trigo és meu irmão
Nascido do meu vale
Tu de mim não faças caso
Que não perdes a feição
Eu também tenho razão
Que a terra é que nos conserva
Com a fresquidão da névoa
Deito raízes ao chão
Eu dou carne e tu dás pão
Tu és trigo e eu sou erva.
II
Sou planta abandonada
Nascida ao rigor do tempo
Eu contudo me contento
Com terra sem ser lavrada
Comigo não gastam enxada
Crio-me nos brejos e (vais)vales
Eu aumento os capitais
Tu encontras-me firmeza
Dou interesses sem despesa
Nós podemos ser iguais.
III
Ó trigo na tua sementeira
Tu andas sempre empenhado
Pois tu só comes prestado
Da poderosa oliveira
É assim que é a maneira
Contigo há tantos enganos
Só dás erros nos planos
E comes interesses dos prado
Que dás sustento aos humanos.
IV
Tu queres ser tão gabado
Mas não é como tu dizes
Há já muitos infelizes
Por tu não dares resultado
Já muitos se têm matado
Por perderem cabedais
Ó trigo tão falso sais
Que só dizes mal de mim
Olha que eu não sou ruim
Eu sustento os animais.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Fui Passear Ao Deserto

CARRAPATELO
Francisco Baltazar “”Ti Passinhas” (71 anos) Ano 1977 Analfabeto
MOTE
Fui passear ao deserto
Um dia que fui sozinho
Fui encontrar uma dança
Que fizeram os bichinhos.
I
Eu ouvi mas não sabia
O que no campo se passava
Um grilo também cantava
Até o campo enternecia
O ralo a voz tremia
E a cigarra tudo certo
Parecia um céu aberto
Andava o sapo em função
Pois foi na ocasião
Que eu fui passear ao deserto.
II
A (arrã) rã era solteira
Que andava lá na roda
O caracol com uma moda
Que levantava a bandeira
O alecrau fazia (premeira) primeira
A lesma vazava o vinho
O cágado com um fatinho
Toquem lá que eu dançar sei
Foi o que eu observei
Um dia que fui sozinho.
III
Foi quando eu vi uma pulga
Qu’ estava calçando uma bota
Um piolho a cavalo numa mota
E um lagarto com uma blusa
A lagartixa é o que usa
De casar ainda tem esperança
O zangão com uma balança
Para pesar o petisco
Em bichos não tinha visto
Fui encontrar uma dança.
IV
O escaravelho com uma bola
Andava cilindrando uma estrada
Qu’estava escarcalhada
Que seguia para Oriola
De lá ia p’ra (Engola) Angola
Partida de Rio de Moinhos
Os carapaus riscam os caminhos
Pertence à art’engenharia
Vi uma camioneta da carreira
Que fizeram os bichinhos.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Eu Sinto Uma Dor no Peito

ARRAIOLOS
José António Paulo (58 anos) – Ano 1977

MOTE
Eu sinto uma dor no peito
Ao lado do coração
É causada a teu respeito
Tens o remédio na mão.
I
Escutai se puder ser
Quero-te contar minha vida
Tu és a mulher mais querida
Não posso estar sem te ver.
Podes acabar de crer.
Compunhas um vaso perfeito
Não te falto ao respeito
Só tu és do meu agrado
Estou por ti apaixonado
Eu sinto uma dor no peito.
II
Escutai donzela pura
Acredita que é verdade
Na flor da mocidade
Vou-te contar minha jura
Só tu és a criatura
A quem dava a direita mão
Eu sofro de uma paixão
Já não tenho liberdade
Por ti sinto uma saudade
Ao lado do coração.
III
Amor pede à tua mãezinha
Repara o que te digo
Diz-lhe que é para falar comigo
Essa vontade é a minha
Escuta Mariazinha
Trata a tua mãe com muito jeito
Não lhe faltes ao respeito
Mas faz sempre o teu agrado
Trago o meu sentido enleado
É causado a teu respeito.
IV
Dá-me a tua fotografia
Eu doutra já não pretendo
Podes crer que eu em te vendo
Meu peito enche de alegria
Lembras-me de noite e de dia
Eu trago-te no coração
És uma rosa em botão
Eu isto afirmo em geral
Vem dar alívio ao meu mal
Tens o remédio na mão.

sábado, 27 de outubro de 2007

Fundamento "A Rainha Santa Isabel" 6.º Episódio

MESTRE 100ª
Nós temos muitas despesas
Pedimos uma ajudinha
Qualquer moedazinha
Agradecemos com delicadeza
Quem quiser ter a fineza
Podem para a roda deitar
Os fastudos vão apanhar
E vão para o saco meter
Para ver se pode ser
A nossa despesa pagar.

Cantiga
1.ª
ESTRIBILHO
Da cidade de Elvas
Vê-se Badajoz
São prados e relvas
São de todos nós
2.ª
Caminhos desertos
De antigamente
Fala toda a gente
Destes feitos certos
3.º
Foi um Português
Que na Espanha entrou
O Estandarte sacou
Firme e com altivez.

4.ª
ESTRIBILHO
Da cidade de Elvas
Vê-se Badajoz
São prados e relvas
São de todos nós
5.ª
Numa manhã fresca e bela
Firme no seu cavalinho
Por amor duma donzela
Fez este feito sozinho.
6.º
Sempre ouve a falsidade
Fecharam as portas da cidade
O Português foi apanhado
Para a Espanha foi levado
Com instintos de crueldade.
7.º
ESTRIBILHO
Da cidade de Elvas
Vê-se Badajoz
São prados e relvas
São de todos nós
8.ª
Morreu mas sem glória
O estandarte cá ficou
Sua amada se suicidou
Isto não reza a nossa história.
9.ª
São feitos passados
Não são apagados
Da mente do povo
Hoje vêm de novo
Serem recordados.
10.ª
ESTRIBILHO
Da cidade de Elvas
Vê-se Badajoz
São prados e relvas
São de todos nós
11.º
Lá o caldeirão
Cá o estandarte
A recordação
Sempre em toda a parte.
12.ª
O Governador
Foi bem compensado
Foi decapitado
Porque foi traidor
13.ª
ESTRIBILHO
Da cidade de Elvas
Vê-se Badajoz
São prados e relvas
São de todos nós
14.ª
Dois morreram por amor
Um morreu pela traição
As coisas assim se dão
Tudo tem o seu valor
Feito agora por um autor
Em jeitos de reinação.
15:ª
Viva o Grupo e a mocidade
Viva o povo em geral
Viva o nosso Carnaval
E a nossa linda cidade
É uma jóia e uma beldade
Do Alentejo é Capital
Viva o nosso Portugal
Viva! Viva a Liberdade.

AFONSO Sou soldado português
Fui o Estandarte buscar
Mas foram-me falsear
Morri! Mas só se morre uma vez
Voltas à cidade dei três
E não tocaram a rebate
Se eu tivesse um bacamarte
Não me apanhariam não
Eu fui frito num caldeirão
No Grupo do Estandarte

TERESA
- Décima do Grupo –

Contra o impulso do amor
Não deve haver contradição
Porque muda o coração
Cheio de querer e vigor
O meu pai foi um traidor
Na minha morte teve parte
Quando algum por amor se mate
Deus perdoa e vai para o céu
Sou uma noiva sem véu
No Grupo do Estandarte.

GOVERNADOR
- Décima do Grupo –

Assim fui decapitado
Tudo isto mereci
Esta sorte decidi
Eu podia ser galhardeado
Aquele valente soldado
Criou forma em toda a parte
Quem duma janela salta
Encontra morte honrosa
Assim perdi minha filha formosa
No Grupo do Estandarte.

COMANDANTE ESPANHOL
- Décima do Grupo –

Comandei a perseguição
O terror de Portugal
Contra aquele canibal
Que entrou na procissão
Muitos caíram para o chão
Nem se pode dar combate
Ouviu-se tocar a rebote
Ele o nosso pendão levou
Mas a sua ousadia pagou
No Grupo do Estandarte.

COMANDANTE ESPANHOL
- Décima do Grupo –

Aquele maldito cão
Que o nosso Estandarte levou
Este caldeirão o fritou
Aqui na nossa nação
Sendo eu o capitão
Ia disposto ao combate
Corremos por toda a parte
Nunca vimos os Lusitanos
Eles são grandes desumanos
No Grupo do Estandarte.

SOLDADO ESPANHOL
Eu fiz a perseguição
Àquele português malvado
Mas foi por nós apanhado
A história dele não reza não
Ficou a nossa Nação
Sem aquela jóia de arte
Eu chamo-me Júlia Duarte
Natural de Badajoz
De memória fica em todos nós
No Grupo do Estandarte.

VELHA
- Décima do Grupo –

Fiquei a tremelicar
Senti a espada no pescoço
Até sinto aqui um caroço
Que custo a mastigar
Eu estava a lavar
Vi o grupo de combate
Correram por toda a parte
Eu rezei o meu responso
Apanharam o Afonso
No Grupo do Estandarte.

1.º PALHAÇO
Eu fui o Papa-sal
E gosto do meu copinho
Sou filho de S. Martinho
Sou um ser divinal
Até não sei dizer mal
E toda agente me bate
Só desejo o baluarte
Quando me cai cá pela frente
Sou um rapaz bem decente
No Grupo do Estandarte.

2.º PALHAÇO
- Décima do Grupo –
Trocámos o pendão
Pelo caldeirão
E que sou
Belo azeitinho
Sabe a toucinho
E para o teu vizinho
Eu só quero vinho
E do branquinho
Beber é a tua arte
No Grupo do Estandarte

3.º PALHAÇO
- Décima do Grupo –
Foi aqui que foi fritado
Por ter o pendão roubado
Aquele maldito português
Já cá não volta outra vez
Ainda cabem cá mais três
Quem num espanhol bate
Ou mesmo que o mal trate
Vem para este caldeirão
É como o João Ratão
Cá no Grupo do Estandarte.

REI
- Décima do Grupo –
Aqui no nosso país
Não há lugar para traidores
Assim morreram dois amores
Mas eu a justiça fiz
A boca do povo diz
Que todos os traidores se mate
A hora foi de arrebate
Eu cheguei na hora H
Mas o pendão ficou cá
No Grupo do Estandarte.

ACORDEÃO
Quando puxo pelo fole
Trás sempre um tom positivo
É um som administrativo
Que não é duro nem é mole
À chuva ao vento e ao sol
Aqui e em toda a parte
Assim não há quem me bate
Eu aqui sou o melhor
Toco sempre em ré menor
No Grupo do Estandarte.

BANDEIRA
- Décima do Grupo –
Quem sabe compreenderá
Porque tens estes predicados
Teus feitos não são igualados
É Deus que condão te dá
Um anjo te guardará
Por causa do pecador
O teu lindo resplendor
Ilumina a nossa alma
Tens serenidade e calma
No Grupo do Estandarte.

MESTRE
- Décima do Grupo –

Tive a minha formação
Para isso eu estudei
Fui assim que me formei
Com a mais alta distinção
Ganhei uma condecoração
Dei provas da minha arte
Julgo que ninguém me bate
Nesta coisa de mandar
Sei me bem apresentar
No Grupo do Estandarte.

MESTRE 101.ª
Terminou sim términos
Terminar é chegar ao fim
Agradecemos o pilim
A quem nos ajudou
Gratos a todos estou
Que nos tiveram a ouvir
Nós temos que seguir
Para outro lugar
Um abraço a todos vou dar
E um adeus a sorrir.
(Fala para o Povo)
MESTRE 102.ª
Temos que ir a outro lugar
De tudo peço desculpa
Querem lá nossa presença
Caso contrário tudo caduca
Que não lhe sirva de ofensa
Cada um seu lugar ocupa
E vamos então já marchar
Quando a sua ordem soar
E de tudo peço desculpa.
(Despede-se do patrão)

MESTRE 103.º
Até para o ano se Deus quiser
Saúde e felicidade
Deseja-te esta mocidade
Para si e para a sua mulher
Que não venha a Lúcifer
Sua Excelência perturbar
Que Deus a vá acompanhar
Na sua vida presente
Estimado por toda a gente
Queira-me a mão apertar.
(Despede-se do patrão).

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

A Lenda da Igreja de Nossa Senhora da Fonte Santa








Há muitos, muitos anos, um cabreiro que andava guardando um rebanho de cabras, disse um dia à sua patroa, que tinha achado uma boneca muito bonita.
A patroa, que habitava no monte do Touril, disse ao cabreiro:
Então traga-a cá para a gente ver.
No dia seguinte o cabreiro saiu para guardar as suas cabras, de que ele gostava muito, e quando chegou ao local onde tinha achado a boneca, lá estava ela novamente. Apanhou-a, todo contente, colocou-a dentro do alforge onde levava a merenda, e foi mostrá-la à sua patroa. Qual foi o seu espanto quando abriu o alforge para tirar a boneca, e ela não estava lá.
Ora essa, então tenho a certeza que a meti aqui dentro e não está cá? A patroa, disse ao cabreiro para voltar ao local para ver se encontrava a boneca, e que lhe a troussesse.
No dia seguinte, o cabreiro lá foi e encontrou novamente a boneca. Mas desta vez, voltou a colocá-la dentro do alforge, atou-o muito bem para a boneca não sair, e foi para o monte, para a mostrar à patroa. Quando lá chegou, abriu o alforge, e quando ia a puxar por ela, a boneca tinha desaparecido. Foi então que a patroa sensibilizada e apreensiva lhe disse, que era uma Santa.
A notícia rapidamente se espalhou pelas redondezas.
Os devotos, pensaram contruir uma igreja junto a um monte que ali existia, chamado monte das Ermitoas que ficava ligeiramente mais acima da fonte que existia na margem direita da ribeira do Lucefécit. Então os alvenéus deixavam a cal e outros materiais, junto ao monte das Ermitoas. No dia seguinte, quando lá chegavam os alvenéus, a cal estava seca que nem uma rocha, e ainda hoje lá está, enquanto que o resto dos materiais apareciam junto à fonte. Isto aconteceu tantas vezes, que os devotos desistiram daquele local, e decidiram fazer a vontade à Santa, construindo a igreja junto à fonte. E assim, ficou a chamar-se, Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Fonte Santa.
Luís de Matos

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Amigo Dionísio Mendes

S. Tiago Maior
Manuel Romão Mendes – “Ti Romão” (71 anos) Ano 1977
I
Amigo Dionísio Mendes
Cada um na sua arte
Tu roubávas-me na farinha
E eu roubáva-te os tomates.
II
Todos nós temos defeitos
E puros não o somos
Mas tudo o que nós fazemos
Também já nos têm feito
Não acho justo nem há direito
Não sei se assim o entendes
Naquilo que agente vende
Estar a roubar os fregueses
Mas agente fá-lo tantas vezes
Amigo Dionísio Mendes.
III
O criado rouba o patrão
O patrão rouba o criado
Cada um rouba para seu lado
Naquilo que pode deitar a mão
Se alguém disser que não
Está a fugir ao encarte
Não há ninguém que se farte
Que seja rico que seja pobre
Todos roubam o que podem
Cada um na sua arte.
IV
Quando eras principiante
Logo eu comecei a ver
Mais tarde vinhas a ser
Amigo meu semelhante
Todo o homem negociante
Puxa a brasa à sua sardinha
A tua ideia é igual à minha
O meu sentido é igual ao teu
Pois ainda não me esqueceu
Que tu roubávas-me na farinha.
V
Mas eu cá não me ralava
Com o que tu me fazias
Daí a dois ou três dias
Depressa me as pagávas
Das coisas que me compravas
Nem uma vez te escapáste
Deixemos isso de parte
O que eu te digo decerto
É que tu és muito esperto
E eu roubáva-te os tomates.

Ó Velha Aldeia da Serra

Aldeia da Serra
José Ricardo Domingos (57 anos) Ano 1977

MOTE
Ó Velha Aldeia da Serra
Encontras-te modernizada
Quem te conheceu e quem te conhece
Já não te pareces nada
I
Na minha vida de rapaz
Os carros na minha rua
Andavam mais de recuas
Subir não eram capaz
Vejam a diferença que faz
Nesta minha pequena terra
Quem nisto tudo governa
Por mim será lembrado
Aqui me tens ao teu lado
Ó velha Aldeia da Serra.
II
Tens um posto de educação
Todos sabem corrigir
Sem andarem a pedir
Qualquer explicação
De dentro do coração
Por mim és bem estimada
Por ver que não falta nada
P’ra poder assim falar
Em aldeia estás a morar
Encontras-te modernizada.
III
O serviço desta rua
Está feito com perfeição
Eu sou desta opinião
E cada qual terá a sua
Se isto assim continua
Veremos o que acontece
Já falamos para onde apetece
Sem darmos nem um passo
É por isto que eu estendo o braço
Quem te conheceu e quem te conhece.
IV
Tens estradas para viajar
Para outras pequenas aldeias
Muita gente aqui passeia
Já não chegam a ralhar
Quem se ponha a reparar
Estás toda modificada
Estou-te a ver iluminada
Dou-te os meus elogios
Estás uma vaidosa e com brilho
Já não te pareces nada.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Fundamento "A Rainha Santa Isabel" 5.º Episódio

REI D. DINIS 80
Rosas? Em Janeiro?

RAINHA SANTA ISABEL 81
Sim são! Rosas

REI D. DINIS 82
Duvido. Exijo ver.

REI D. DINIS 83
Oh! Bendito Deus.
Parece milagre!...

REI D. DINIS 84
Fiquei mesmo deslumbrado
Não posso compreender
Como isto pode ser
Rosas por todo o lado
Vinha mal intencionado
Cheio de um mau rancor
Troquei ódio por amor
Isabel tu és uma santa
A tua bondade é tanta
Perdoai-me o meu mau humor.

RAINHA SANTA ISABEL 85
Temos que perdoar uns aos
outros meu querido.

REI D. DINIS 86
Valha-me o anjo Rafael
Sinto-me muito doente
Estou mesmo impaciente
Minha querida Isabel
Para mim é como o fel
Se eu tivesse que morrer
O que vem do reino a ser
Pelo nosso filho governado
Até pode não ser respeitado
Sinto o meu corpo a tremer.
(Fala para a Rainha. Está deitado e doente)

RAINHA SANTA ISABEL 87
Meu querido, meu querido Dinis
Não estejas assim a pensar
Deus te há-de melhorar
Eu seria uma infeliz
O nosso querido filho diz
Que te quer pedir perdão
Como tens bom coração
Deve-lhes tudo perdoar
Queres que o vá chamar
Para te beijar a mão?

REI D. DINIS 88
Sim! Vai-o lá chamar
Quero-lhe fazer um esclarecimento
Quero que tenha conhecimento
Como há-de governar
Se eu tiver que findar
Fica ele para me substituir
Deve sempre perseguir
Engrandece a Nação
Sinto-me a diminuir.

RAINHA SANTA ISABEL 89
Vou Já chamá-lo

RAINHA SANTA ISABEL 90
Afonso!

INFANTE D. AFONSO 91
Minha mãe!

RAINHA SANTA ISABEL 92
Vem cá meu filho.

RAINHA SANTA ISABEL 93
Meu filho venho-te chamar
E deves-me obedecer
O teu pai quer-te ver
E também te quer falar
Dever de bem escutar
E cumprires o que ele disser
Livrar-te-á de Lúcifer
Se ao teu pai pedires perdão
Serás o futuro Rei da Nação
Meu filho! Vai, vai a correr.

INFANTE D. AFONSO 94
Sim minha mãe! Irei.

RAINHA SANTA ISABEL 95
Vem meu filho. Aqui.

INFANTE D. AFONSO 96
Meu querido pai, perdão
Perdoa o teu filho amado
Sim eu fui um desvairado
Tinha má compreensão
Tive um mau coração
Era o ciúme a mimar
Hoje já sei perdoar
Já tenho outra idade
Já sinto em mim bondade
A mãe tem me sabido ensinar.

INFANTE D. AFONSO 97
Eu peço perdão a Deus
Pelo meu mão pensamento
Já tenho outro procedimento
Peço perdão pelos pecados meus
Sei que os pensamentos seus
São só para bem de mim
Pai, perdoa-me sim?
Para Deus lhe perdoar
Pai quero-o abraçar
E dar-lhe beijos sem fim.

REI D. DINIS 98
Basta meu filho!

REI D. DINIS 99
Se a ti não te perdoasse
Não perdoava a ninguém
Meu filho considera bem
Eu morreria se não te falasse
Mal de nós se não passasse
Tudo pára neste mundo
Eu quase já moribundo
Pretendo todos perdoar
Ficas tu filho a governar
Ficas tu mandando em tudo.

Estive à uns Anos no Hospital

S. Tiago Maior
Manuel Romão Mendes – “Ti Romão” (71 anos) Ano 1977
I
Oh linda Vila Viçosa
Estás cercada de olival
Ainda p’ra mais grandeza
Tens um Palácio Real.
II
É uma vila importante
É um jardim de beleza
Tem hospital p’ra pobreza
Tem colégio p’ra estudantes.
III
É de todas um encanto
É mais linda que uma rosa
Própria família bondosa
Foi Deus que lhe deu o dom
Tudo quanto tem é bom
Oh linda Vila Viçosa.
IV
Tem uma grande avenida
Ao cimo tem uma igreja
Para que toda a gente veja
Onde ela foi construída
Tem serrações há saída
Tem um lindo carrascal
Muitas quintas ao redor
Mas ainda a melhor
Está cercada de olival.
V
Tem uma grande muralha
Que fizeram os antigos
Para se defenderem dos inimigos
Quando haja qualquer batalha
Devia ter ganho medalha
O inventor da fortaleza
Mas ainda a melhor defesa
Para defender a nação
Tem nossa senhora da Conceição
Ainda p'ra mais grandeza.
VI
Quando o Rei aqui habitava
E um regimento de cavalaria
El-Rei todos os dias
No seu cavalo montava
Suas tropas visitava
Fazendo adeus ao pessoal
Ficou fama em Portugal
De ser a Vila Superior
Ainda para mais valor
Tem o Palácio Real.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Acerca da Moça Quando Namora

S. Tiago Maior
Manuel Romão Mendes – “Ti Romão” (71 anos) Ano 1977

Por muito que um homem corra
Faça lá o que fizer
Mesmo que velhinho morra
Nunca chega aonde quer

Acerca da moça quando namora
I
A moça quando namora
Não assenta a fazer nada
Anda para dentro e para fora
Todo o dia da semanada.
II
Começa logo a cantar
Pela manhã quando se levanta
Para afinar a garganta
Ainda antes de almoçar
III
Depois vai-se pentear
Leva ali mais de uma hora
Quando se vai dali embora
É lá quando lhe convém
O que quer é parecer bem
A moça quando namora
IV
A casa começa a varrer
E se a varrer continua
Em ouvindo alguém na rua
Abala logo a correr
Enquanto o serviço anda a fazer
Anda muito desembaraçada
Mas se ouve alguma resmalhada
Olha para dentro e para trás
Só pensando no rapaz
Não assenta a fazer nada
V
À tarde compõe-se, vai-se ver ao espelho
Com seu vestido da moda
Com saia de pouca roda
Por lado de cima dos joelhos
Com soquetes p’los artelhos
Pareço mesmo bem agora
Mas se o rapaz ainda se demora
E ela já está empampoilada
Já não pode estar parada
Anda p’ra dentro e p’ra fora.
VI
Qundo chega o namorado
Tem-se passado a tardada
Já tenho a vista cansada
Tenho que pôr umas lentes
Para andar para trás e para diante
Todo o dia da semanada

Agora começa a discutir o namorado com a namorada

Sabe Deus como eu cá venho
Amor do meu coração
Eu bem sei que tens razão
Mas eu também a tenho
Qual é que era o meu empenho?
Era estar ao pé de ti
Assim tu fosses para mim
Que era o que eu mais desejava
Nunca a nossa amizade acabava
Sem a morte lhe dar fim.

Agora responde ela

Já tu vens feito fingido
Eu bem sei o que tu queres
Tu pensas que as mulheres
São todas fracas do sentido?
Vai tomar um comprimido
Tu o que tens é dor de barriga
Eu não vou nessa cantiga
Nem hoje nem amanhã
Se por acaso não te convém
Arranja outra rapariga.

Agora responde ele

Arranjo outra rapariga
Olha o teu descaramento
Com esse procedimento
Já estás disposta p’ra brigas
Dá-me cá já as ligas
Que te comprei lá na festa
A quem se contará uma destas
Senão fosse aqui à tua porta
Davas uma cambalhota
Com um murro aí p’la testa

Agora responde ela

Eu disse isso a mangar
Para ver o que tu dizias
Para ver o que tu fazias
E já te estás a zangar
Tomara eu já casar
Tu cuidas que é mangação
Se isto desse na tua mão
Ainda esta tarde
Ia falar com o padre
Para irmos á confissão

Agora responde ele

Se comigo estás ofendida
Eu já te pesso perdão
Para o resto da minha vida
Toma lá a minha mão.

Agora responde ela

A tua mão recebi
Com um amor profundo
Já que te tenho a ti
Não quero mais nada no mundo.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Entrei na casa da tia Gertrudes Sapatoa

Aldeia da Venda-Santiago Maior
Miguel José da Silva “Ti Miguel” (65 anos) Ano 1977

MOTE
Entrei à da tia Gertrudes Sapatoa
Estando na sua casa sozinha
Porque não vai para Lisboa?
Porque sou muito velhinha
I
Já vai acabando tudo
O que se chama tradição
O fim de uma civilização
Até acabou o Entrudo
Aquele que fizer um estudo
Que tenha uma memória boa
Vê que a trombeta já soa
Embora devagarinho
Vou andando o meu caminho
Entrei à da Gertrudes sapatoa
II
O homem anda doente
Com uma doença moral
Não há remédio p’ro mal
Porque atingiu toda a gente
Tudo sai do Continente
Deixando a sua terrinha
Marchando assim em linha
E sem destino qualquer
Deixando a sua mulher
Na sua casa sozinha.
III
São as melhoras da morte
E dizem estar a melhorar
Já está tudo a abalar
Desde o Alentejo ao norte
Porque têm bom transporte
E cá a vida não é boa
Há por aí tanta pessoa
Que se anda sempre a queixar
Faz favor de explicar
Porque não vai para Lisboa?
IV
E são dias de vingança
É uma forma tamanha
Que uns vão para a Alemanha
Outros abalam para a França
Mas tal não é a mudança
A gente não adivinha
Deixei tudo quanto tinha
Deixei mãe e dixei pai
Mas porque é que você não vai
Porque sou muito velhinha

Fundamento "A Rainha Santa Isabel" 4.º Episódio

RAINHA SANTA ISABEL 60
Ai daquele que tentar ferir o próximo
Esse será precipitado pelo chão
Abaixo, ardendo num fogo eterno.
Venho mandada por Deus.

RAINHA SANTA ISABEL 61
A paz seja convosco.

RAINHA SANTA ISABEL 62
Amai-vos uns aos outros.

RAINHA SANTA ISABEL 63
Nós somos todos irmãos
Somos todos portugueses
Não causai nem um reveses
Daí meus filhos as mãos
Todos os tentares são vãos
Contra a nossa soberania
Comemoremos este dia
Todos têm o perdão
São todos da mesma nação
Tenhamos alegria.

RAINHA SANTA ISABEL 64
Meu filho agora para ti
A tua mãe escutai
Pede perdão ao teu pai
Ele te perdoará sim
Quem perdoar hoje aqui
Deus lhe dará o perdão
Dá-lhe meu marido a bênção
Como é habitual
Queremos paz em Portugal
Todo o Povo é Cristão.
(Fala para o filho e este deixa cair a espada. Seguidamente vai ajoelhar junto da mãe e beija-lhe as mãos)

INFANTE D. AFONSO 65
Querida mãe! Só a tua bondade me acalmou. Perdão! Perdão! Perdão querido pai!

REI D. DINIS 66
Dou-te sim o perdão, por agora condicional e só à hora da minha morte te darei o perdão definitivamente, se me o pedires novamente.

INFANTE D. AFONSO 67

Obrigado meu pai!

REI D. DINIS 68
Companhia! Retirar para os vossos quartéis.

SOLDADOS (todos) 69

Viva a nossa Rainha e o nosso Rei D. Dinis.

INFANTE D. AFONSO 70

Querida mãe tu és uma santa
Bem digo a tua virtude
Quis lutar e não pude
A tua virtude é tanta
És na terra uma planta
Que Deus tem para proteger
Não faço o que penso fazer
Querida mãe dá-me perdão
Tens um bondoso coração
Não deixaste sangue corre.

RAINHA SANTA ISABEL 71
Meu filho tu tem cuidado
Que podes o céu perder
Não deves assim proceder
Só tu serás coroado
Não andes preocupado
Ninguém te tirará a coroa
És a única pessoa
Que és legitimado
Com fé vive sossegado
Sempre com a ideia boa.

Infante D. Sanches 72
Minha mãe vivo com medo
Que me podem vir matar
Meu irmão foi-se revoltar
Eu vou retirar para Toledo
Evito assim enredo
E lá estou mais sossegado
Não espero ser coroado
Isso nunca podia ser
Nada mais tenho a fazer
Não quero viver preocupado

Amante (do Rei D. Dinis) 73
Sim meu querido filho
Eu faço-te companhia
Já não esperamos em ser dia
Pode haver algum sarilho
Novo caminho eu trilho
Vamos já pôr a andar
Para Toledo vamos morar
Lá estamos em segurança
De o poder se alcançar

RAINHA SANTA ISABEL 74
A paz seja convosco! Irmãos de Cristandade.

ESCRAVO 2.º 75
E contigo também Rainha

RAINHA SANTA ISABEL 76
Aceitai! Comei e descansai
E vamos ao nosso Deus implorar
Por nós e por todos rezar
Que Deus alívios nos dai
A bênção do Senhor recai
Sobre as vossas alminhas
Sempre nas orações minhas
Eu peço perdão por nós
Pedimos graças divinas.
(Fala no Templo para os escravos e dá-lhes pão)

VASSALO 2.º 77
O nosso Rei!

REI D. DINIS 78
O que trazes no manto Senhora?

RAINHA SANTA ISABEL 79
São rosas meu senhor!

Fundamento "A Rainha Santa Isabel" 3.º Episódio

REI D. DINIS 40
Vejo sempre tudo na mesma
O dinheiro está-se a gastar
Tenho que os vassalos castigar
O trabalho vai a passo de lesma
É claro está na mesma
Não pode isto assim ser
Isto é para se fazer
Façam os escravos trabalhar
Só tenho coisas que me incomoda
Quero mais trabalho ver.
(Fala para os escravos e vassalos)

VASSALO MOR 41

Tem razão meu altivo Rei
Mas a culpa não é minha
Tem culpa a nossa Rainha
Eu tudo a Vossa Majestade explicarei
Sou vassalo obedecerei
Que é a minha obrigação
A nossa Rainha trás pão
A todos os escravos vai dar
Estão horas sem trabalhar
Sempre em oração.

VASSALO MOR 42
A minha ideia consome
Mas não me posso opor
Nos escravos tem amor
Dá pão a quem tem fome
Desculpe que eu informe
Resigna-lhes o seu sofrer
Até lhe dá água para beber
A quem água lhe for pedir
Não me pode a mim competir
A nossa Rainha repreender.

REI D. DINIS 43
Pois isso vai acabar
Está o tesouro a enfraquecer
Hei-de-a aqui vir repreender
Todo o pão lhe hei-de tirar
Faz os escravos trabalhar
Estão à tua disposição
Tens o chicote na mão
Pois não é só para se ver
O Templo tem que se fazer
Ainda este Verão.
(Fala zangado com o Vassalo Mor)
Vassalo Mor 44
Tudo obedecerei meu senhor.

INFANTE D. AFONSO 45
Soldados e oficiais
Devem-me obedecer
Estamos perigo a correr
Todos com atenção escutais
Antes que cheguem os ais
Devemos de proceder
Temos que já resolver
Antes que seja tarde
Meu pai Real Majestade
Quer entregar o poder.

INFANTE D. AFONSO 46
Sabem que tem um filho bastardo
E querem-lhe a coroa entregar
E se ele fica a reinar
Fica tudo arruinado
Meu pai anda desvairado
Com a desavergonhada amante
Corramos já num instante
E eu assumo o poder
Dinheiro mais irão receber
E prendemos o arrogante.

SOLDADO (que avisa o rei) 47
Real Majestade.

REI D. DINIS 48
Há alguma novidade?

Rei D. Dinis 49
Tola!

SOLDADO (que avisa o Rei) 50
Uma revolta meu Senhor
Seu filho Afonso é o chefe
Aviso para que se apresse
A dar guerra ao traidor
Ele trás grande rancor
A luta deve ser de morte
Sua hoste é muito forte
Que ele conseguiu iludir
Temos que a ele resistir
Para fazer o COMPLOTE.

REI D. DINIS 51
Maldito sejas tu filho ingrato
Vai pagar com as penas da lei.

REI D. DINIS 52
Segue-me.

REI D. DINIS 53
Tratem de preparar
Vamos entrar em combate
Com heroísmo se bate
Não há nada a esperar
Vamos ao encontro marchar
Nem a um se dá perdão
A uns traidores da Nação
Quero-os todos degolados
E o chefe feito em bocados
Sigam de armas na mão.
(D. Dinis lala para o exército que o segue com armas na mão)

INFANTE D. AFONSO 54
Soldados preparar
Vamos entrar em combate
Cada um com a sua arte
É preciso bem lutar
Temos que todos exterminar
Não deve haver contemplações
Todos ganharão galões
No fim de se vencer
Eu tenho certo o poder
Vamos liquidar aqueles cães.

REI D. DINIS 55
Já começa a haver perigo
Já vejo as espadas a luzir
Não poderão resistir
Somos mais fortes que o inimigo
Escutem sempre o que eu digo
Quando se anda a combater
Devem o meu filho prender
Que eu o quero liquidar
Ele vem se aproximar
Firmes temos que os vencer.

INFANTE D. AFONSO 56
Ao combate! Liquidar todos.

REI D. DINIS 57
Atacar! …

INFANTE D. AFONSO 58
Lutar até à morte.

RAINHA SANTA ISABEL 59

Baixai as vossas espadas.

Fundamento "A Rainha Santa Isabel" 1.º Episódio

(Começa o fundamento).

REI D. DINIS 1
Tu como Vassalo Mor
Ficas já recomendado
O trabalho está atrasado
A obra que pouco demore
Escolhe pessoal melhor
Quero tudo com perfeição
Os arquitectos que lá estão
Também foram recomendados
Quero os escravos bem vigiados
Segue para a tua obrigação
(Fala zangado e com autoridade)

VASSALO MOR 2
Com sua licença

VASSALO MOR 3
Têm que mais trabalhar
O nosso Rei não está contente
O trabalho não anda p’rá frente
Esteve comigo a ralhar
Têm que se desembaraçar
Isto assim não pode ser
Terei que ainda mais bater
Algum que vá malandrar
O Rei manda-o enforcar
Já sabe, tem que morrer.
(Fala zangado e com o chicote na mão)

VASSALO MOR 4
Nossa Rainha!

ESCRAVO 1.º 5
Água! Agua!
RAINHA SANTA ISABEL 6
Bebi à vossa vontade

RAINHA SANTA ISABEL 7

Aceitai e comei, que ordeno eu.

ESCRAVOS (TODOS) 8
Rainha Santa! Rainha Santa!

ESCRAVOS 1.º 9
Protege-nos bondosa senhora.

RAINHA SANTA ISABEL 10
Tende fé em Deus

RAINHA SANTA ISABEL 11
Orai meus filhos. Que Deus lhes valerá


RAINHA SANTA ISABEL 12
Amanhã os visitarei novamente

INFANTE D. AFONSO 13
Sanches. Estou impressionado
E ando com mau humor
Trago por ti um rancor
Tu ambicionas o reinado
Tu és filho bastardo
Não tens direito a elucidar
A tua mãe é culpada
É uma descarada
Pretende o meu pai dominar

Infante D. Sanches 14
(Filho de D. Dinis e da amante, Isabel de Aragão)

E se o nosso pai entender
Terás que te conformar
Não tens nada a reclamar
Ele dá a quem quiser o poder
É claro se eu merecer
Do pai mais estimação
O povo não diz que não
Ao que o Rei, nosso pai quiser
Ele é que dispõe e quer
Trazes tu má ilusão.

INFANTE D. AFONSO 15
Se eu tenho bem certeza
Que isso vai acontecer
Um dos dois tem que morrer
Tens a morte à Portuguesa
Com a alma semi-presa
Vive a minha mãe coitada
A tua mãe será enforcada
Se eu um dia reinar
E tu vou-te desterrar
Não és meu irmão não és nada.

INFANTE D. AFONSO 16
O meu pai anda iludido
Pela tua mãe desonesta
Mas pouca vida lhe resta
Andas pelo meu pai persuadido
Tu tens o sentido perdido
Pensas um dia ser Rei
Já um conselho te dei
Para deste reino saíres
Aconselho-te a que te retires
Antes que eu te odeie.
(Fala para Sanches, seu irmão bastardo)

INFANTE D. AFONSO 17
Não me trates por irmão
Eu disso tenho desprezo
Tu breve serás preso
E não terás salvação
Minha mãe sofre a paixão
O meu pai faz a maldade
Assim não é um Majestade
Está mau exemplo a dar
Isto um dia há-de acabar
Acaba de verdade.
(Volta as costas ao irmão)

INFANTE D.SANCHES 18
Recuso mais tua fala
Tu não és digno de mim
Pois terás um triste fim
Eu tenho a minha ala
Quem mais bem pensa, mais cala
Já sei o hei-de fazer
Ao nosso pai hei-de dizer
Ele te dará o castigo
Considero-te meu inimigo
Tens de mim tudo a perder.

REI D. DINIS 19
Parece que estás preocupado?
Sanches, meu filho querido
Vejo-te tão abatido
Conta-me meu filho amado
Estás com cara de zangado
Alguma coisa aconteceu
Foi alguém que te ofendeu?
Conta-me que eu te escutarei
Eu o castigarei
O Rei desta Nação, sou eu.
(Fala para Sanches, seu filho bastardo)

Fundamento "A Rainha Santa Isabel" 2.º episódio

INFANTE D. SANCHES 20
D. Afonso me ofendeu
Ele de mim tem ciúmes
Ele tem esses costumes
Diz que não sou filho seu
Contra si se enraiveceu
Disse-me que não sou digna pessoa
Desconfia que lhe tiro a coroa
Depois da sua morte
Diz que é forte
E que a voz dele um dia soa.

INFANTE D. SANCHES 21
Não sei mesmo que fará
Meu querido pai contra si
O que eu compreendi
Que contra si se revoltará
Diz que de acordo não está
De eu também ser seu filho
Que deve de haver sarilho
E que nós temos segredos
Até fiquei cheio de medos
Não deve seguir bons trilhos.

REI D. DINIS 22
É um filho muito ingrato
Aquele meu filho Afonso
Hei-de-lhe dar um responso
Pois isto é um mau acto
Só tu me tens sido grato
Eu tudo por ti farei
Nunca te abandonarei
Não lhe satisfaço a vontade
Sou eu, sou eu a Majestade
Eu o castigarei.
(Fala para Sanches, zangado com o outro filho, Afonso)

AMANTE (do Rei D. Dinis) 23
Dinis meu Senhor
Estou muito preocupada
Ando sempre sobressaltada
D. Afonso tem mau humor
Eu sei que sinto rancor
Pensa que o Senhor lhe tira a coroa
Não está a ser digna pessoa
Ele do irmão tem ciúmes
Ele nem sabe os costumes
E não nos perdoa.

REI D. DINIS 24
Fica descansada meu amor
Tudo há-de ser normal
Sou o Rei de Portugal
Eu sou um grande Senhor
Se o meu filho for traidor
Deve de ser enforcado
Não tem ninguém a seu lado
Para fazer um COMPLOTE
Sou Rei e sou muito forte
Estou muito bem armado.
(Fala para a amante e beija-a)
REI D: DINIS 25
Adeus até amanhã.

AMANTE (do Rei D. Dinis) 26
Meu filho tu tem cuidado
Com o Afonso teu irmão
Ele tem mau coração
Tens o teu pai a teu lado
Mas não andes descuidado
Que ele pode-te matar
Os ciúmes andam-no a dominar
É pelo demónio dominado
Não abales do meu lado
E deixa-o, deixa-o falar.

Infante D. Afonso 27
(filho legítimo de D. Dinis)

Minha mãe estou irritado
Com aquele Sanches malvado
Um dia será enforcado
Aquele filho bastardo
O meu pai é o culpado
Que lhe dá a protecção
Sendo o Rei da Nação
Mau exemplo está a dar
Nem Deus lhe vai perdoar
Nem a mão lhe dar dê perdão.

RAINHA SANTA ISABEL 28
Acalma meu filho querido
Isso de ti são ciúmes
Sabes segundo os costumes
Tu és sempre o preferido
Não andes assim perdido
Deus te recompensará
Teu pai a coroa te dá
Tu serás o Rei futuro
É assim filho, eu te juro
Nunca penses coisa má.
(Fala para o filho com muita ternura)

RAINHA SANTA ISABEL 29
Sei que teu pai muito gosta
Daquele filho bastardo
Legítimo não é considerado
De ti também não desgosta
Teu pai a ti não demonstra
Mas tudo ele por ti faz
Vê em ti que és capaz
De seres o futuro Rei
E queremos sempre paz.

RAINHA SANTA ISABEL 30
Teu pai vem a chegar.

INFANTE D. AFONSO 31
Querida mãe és uma santa
Sempre te hei-de obedecer
Fazes-me as intenções perder
A tua bondade é tanta
Mas eu sinto na garganta
Um nó que me sufoca
O Sanches me provoca
Sente-se protegido
Eu ando enfurecido
Porque a razão me toca.

RAINHA SANTA ISABEL 32
Adeus meu filho! Tem fé em Deus.

REI D. DINIS 33
O Afonso já cá esteve?

RAINHA SANTA ISABEL 34
Já sim … O que aconteceu?
REI D. DINIS 35
Sei que já tem preparado
Uma revolta contra mim
Terá um triste fim
Será enforcado
Um filho contra o pai revoltado
Não é admissível
Até parece impossível
Tanto que eu o tenho estimado
Tenho que andar aquartelado
Parece incrível.
(Fala zangado para a Rainha)

RAINHA SANTA ISABEL 36
Dinis tem paciência
Como Rei desta Nação
Ao nosso filho dá perdão
Ainda é a inocência
Confia na divina providência
Não haverá sangue derramado
Não manches o teu reinado
Pensamos sempre o melhor
Não penses assim que é pior
Deus te tenha abençoado.
(Fala para o Rei com muita meiguice)

REI D. DINIS 37
Sempre me fazes acalmar
Com as tuas santas palavras
Esperanças para esperar
Nunca te poderei pagar
Como recompensar tua virtude
Fiz por nosso filho o que pude
Para ele ser educado
E agora contra mim revoltado
Até o nosso pensar se confunde.

RAINHA SANTA ISABEL 38
São ciúmes já tu sabes!

RAINHA SANTA ISABEL 39
Descansa a tua alma.