terça-feira, 16 de outubro de 2007

Entrei na casa da tia Gertrudes Sapatoa

Aldeia da Venda-Santiago Maior
Miguel José da Silva “Ti Miguel” (65 anos) Ano 1977

MOTE
Entrei à da tia Gertrudes Sapatoa
Estando na sua casa sozinha
Porque não vai para Lisboa?
Porque sou muito velhinha
I
Já vai acabando tudo
O que se chama tradição
O fim de uma civilização
Até acabou o Entrudo
Aquele que fizer um estudo
Que tenha uma memória boa
Vê que a trombeta já soa
Embora devagarinho
Vou andando o meu caminho
Entrei à da Gertrudes sapatoa
II
O homem anda doente
Com uma doença moral
Não há remédio p’ro mal
Porque atingiu toda a gente
Tudo sai do Continente
Deixando a sua terrinha
Marchando assim em linha
E sem destino qualquer
Deixando a sua mulher
Na sua casa sozinha.
III
São as melhoras da morte
E dizem estar a melhorar
Já está tudo a abalar
Desde o Alentejo ao norte
Porque têm bom transporte
E cá a vida não é boa
Há por aí tanta pessoa
Que se anda sempre a queixar
Faz favor de explicar
Porque não vai para Lisboa?
IV
E são dias de vingança
É uma forma tamanha
Que uns vão para a Alemanha
Outros abalam para a França
Mas tal não é a mudança
A gente não adivinha
Deixei tudo quanto tinha
Deixei mãe e dixei pai
Mas porque é que você não vai
Porque sou muito velhinha

Fundamento "A Rainha Santa Isabel" 4.º Episódio

RAINHA SANTA ISABEL 60
Ai daquele que tentar ferir o próximo
Esse será precipitado pelo chão
Abaixo, ardendo num fogo eterno.
Venho mandada por Deus.

RAINHA SANTA ISABEL 61
A paz seja convosco.

RAINHA SANTA ISABEL 62
Amai-vos uns aos outros.

RAINHA SANTA ISABEL 63
Nós somos todos irmãos
Somos todos portugueses
Não causai nem um reveses
Daí meus filhos as mãos
Todos os tentares são vãos
Contra a nossa soberania
Comemoremos este dia
Todos têm o perdão
São todos da mesma nação
Tenhamos alegria.

RAINHA SANTA ISABEL 64
Meu filho agora para ti
A tua mãe escutai
Pede perdão ao teu pai
Ele te perdoará sim
Quem perdoar hoje aqui
Deus lhe dará o perdão
Dá-lhe meu marido a bênção
Como é habitual
Queremos paz em Portugal
Todo o Povo é Cristão.
(Fala para o filho e este deixa cair a espada. Seguidamente vai ajoelhar junto da mãe e beija-lhe as mãos)

INFANTE D. AFONSO 65
Querida mãe! Só a tua bondade me acalmou. Perdão! Perdão! Perdão querido pai!

REI D. DINIS 66
Dou-te sim o perdão, por agora condicional e só à hora da minha morte te darei o perdão definitivamente, se me o pedires novamente.

INFANTE D. AFONSO 67

Obrigado meu pai!

REI D. DINIS 68
Companhia! Retirar para os vossos quartéis.

SOLDADOS (todos) 69

Viva a nossa Rainha e o nosso Rei D. Dinis.

INFANTE D. AFONSO 70

Querida mãe tu és uma santa
Bem digo a tua virtude
Quis lutar e não pude
A tua virtude é tanta
És na terra uma planta
Que Deus tem para proteger
Não faço o que penso fazer
Querida mãe dá-me perdão
Tens um bondoso coração
Não deixaste sangue corre.

RAINHA SANTA ISABEL 71
Meu filho tu tem cuidado
Que podes o céu perder
Não deves assim proceder
Só tu serás coroado
Não andes preocupado
Ninguém te tirará a coroa
És a única pessoa
Que és legitimado
Com fé vive sossegado
Sempre com a ideia boa.

Infante D. Sanches 72
Minha mãe vivo com medo
Que me podem vir matar
Meu irmão foi-se revoltar
Eu vou retirar para Toledo
Evito assim enredo
E lá estou mais sossegado
Não espero ser coroado
Isso nunca podia ser
Nada mais tenho a fazer
Não quero viver preocupado

Amante (do Rei D. Dinis) 73
Sim meu querido filho
Eu faço-te companhia
Já não esperamos em ser dia
Pode haver algum sarilho
Novo caminho eu trilho
Vamos já pôr a andar
Para Toledo vamos morar
Lá estamos em segurança
De o poder se alcançar

RAINHA SANTA ISABEL 74
A paz seja convosco! Irmãos de Cristandade.

ESCRAVO 2.º 75
E contigo também Rainha

RAINHA SANTA ISABEL 76
Aceitai! Comei e descansai
E vamos ao nosso Deus implorar
Por nós e por todos rezar
Que Deus alívios nos dai
A bênção do Senhor recai
Sobre as vossas alminhas
Sempre nas orações minhas
Eu peço perdão por nós
Pedimos graças divinas.
(Fala no Templo para os escravos e dá-lhes pão)

VASSALO 2.º 77
O nosso Rei!

REI D. DINIS 78
O que trazes no manto Senhora?

RAINHA SANTA ISABEL 79
São rosas meu senhor!

Fundamento "A Rainha Santa Isabel" 3.º Episódio

REI D. DINIS 40
Vejo sempre tudo na mesma
O dinheiro está-se a gastar
Tenho que os vassalos castigar
O trabalho vai a passo de lesma
É claro está na mesma
Não pode isto assim ser
Isto é para se fazer
Façam os escravos trabalhar
Só tenho coisas que me incomoda
Quero mais trabalho ver.
(Fala para os escravos e vassalos)

VASSALO MOR 41

Tem razão meu altivo Rei
Mas a culpa não é minha
Tem culpa a nossa Rainha
Eu tudo a Vossa Majestade explicarei
Sou vassalo obedecerei
Que é a minha obrigação
A nossa Rainha trás pão
A todos os escravos vai dar
Estão horas sem trabalhar
Sempre em oração.

VASSALO MOR 42
A minha ideia consome
Mas não me posso opor
Nos escravos tem amor
Dá pão a quem tem fome
Desculpe que eu informe
Resigna-lhes o seu sofrer
Até lhe dá água para beber
A quem água lhe for pedir
Não me pode a mim competir
A nossa Rainha repreender.

REI D. DINIS 43
Pois isso vai acabar
Está o tesouro a enfraquecer
Hei-de-a aqui vir repreender
Todo o pão lhe hei-de tirar
Faz os escravos trabalhar
Estão à tua disposição
Tens o chicote na mão
Pois não é só para se ver
O Templo tem que se fazer
Ainda este Verão.
(Fala zangado com o Vassalo Mor)
Vassalo Mor 44
Tudo obedecerei meu senhor.

INFANTE D. AFONSO 45
Soldados e oficiais
Devem-me obedecer
Estamos perigo a correr
Todos com atenção escutais
Antes que cheguem os ais
Devemos de proceder
Temos que já resolver
Antes que seja tarde
Meu pai Real Majestade
Quer entregar o poder.

INFANTE D. AFONSO 46
Sabem que tem um filho bastardo
E querem-lhe a coroa entregar
E se ele fica a reinar
Fica tudo arruinado
Meu pai anda desvairado
Com a desavergonhada amante
Corramos já num instante
E eu assumo o poder
Dinheiro mais irão receber
E prendemos o arrogante.

SOLDADO (que avisa o rei) 47
Real Majestade.

REI D. DINIS 48
Há alguma novidade?

Rei D. Dinis 49
Tola!

SOLDADO (que avisa o Rei) 50
Uma revolta meu Senhor
Seu filho Afonso é o chefe
Aviso para que se apresse
A dar guerra ao traidor
Ele trás grande rancor
A luta deve ser de morte
Sua hoste é muito forte
Que ele conseguiu iludir
Temos que a ele resistir
Para fazer o COMPLOTE.

REI D. DINIS 51
Maldito sejas tu filho ingrato
Vai pagar com as penas da lei.

REI D. DINIS 52
Segue-me.

REI D. DINIS 53
Tratem de preparar
Vamos entrar em combate
Com heroísmo se bate
Não há nada a esperar
Vamos ao encontro marchar
Nem a um se dá perdão
A uns traidores da Nação
Quero-os todos degolados
E o chefe feito em bocados
Sigam de armas na mão.
(D. Dinis lala para o exército que o segue com armas na mão)

INFANTE D. AFONSO 54
Soldados preparar
Vamos entrar em combate
Cada um com a sua arte
É preciso bem lutar
Temos que todos exterminar
Não deve haver contemplações
Todos ganharão galões
No fim de se vencer
Eu tenho certo o poder
Vamos liquidar aqueles cães.

REI D. DINIS 55
Já começa a haver perigo
Já vejo as espadas a luzir
Não poderão resistir
Somos mais fortes que o inimigo
Escutem sempre o que eu digo
Quando se anda a combater
Devem o meu filho prender
Que eu o quero liquidar
Ele vem se aproximar
Firmes temos que os vencer.

INFANTE D. AFONSO 56
Ao combate! Liquidar todos.

REI D. DINIS 57
Atacar! …

INFANTE D. AFONSO 58
Lutar até à morte.

RAINHA SANTA ISABEL 59

Baixai as vossas espadas.

Fundamento "A Rainha Santa Isabel" 1.º Episódio

(Começa o fundamento).

REI D. DINIS 1
Tu como Vassalo Mor
Ficas já recomendado
O trabalho está atrasado
A obra que pouco demore
Escolhe pessoal melhor
Quero tudo com perfeição
Os arquitectos que lá estão
Também foram recomendados
Quero os escravos bem vigiados
Segue para a tua obrigação
(Fala zangado e com autoridade)

VASSALO MOR 2
Com sua licença

VASSALO MOR 3
Têm que mais trabalhar
O nosso Rei não está contente
O trabalho não anda p’rá frente
Esteve comigo a ralhar
Têm que se desembaraçar
Isto assim não pode ser
Terei que ainda mais bater
Algum que vá malandrar
O Rei manda-o enforcar
Já sabe, tem que morrer.
(Fala zangado e com o chicote na mão)

VASSALO MOR 4
Nossa Rainha!

ESCRAVO 1.º 5
Água! Agua!
RAINHA SANTA ISABEL 6
Bebi à vossa vontade

RAINHA SANTA ISABEL 7

Aceitai e comei, que ordeno eu.

ESCRAVOS (TODOS) 8
Rainha Santa! Rainha Santa!

ESCRAVOS 1.º 9
Protege-nos bondosa senhora.

RAINHA SANTA ISABEL 10
Tende fé em Deus

RAINHA SANTA ISABEL 11
Orai meus filhos. Que Deus lhes valerá


RAINHA SANTA ISABEL 12
Amanhã os visitarei novamente

INFANTE D. AFONSO 13
Sanches. Estou impressionado
E ando com mau humor
Trago por ti um rancor
Tu ambicionas o reinado
Tu és filho bastardo
Não tens direito a elucidar
A tua mãe é culpada
É uma descarada
Pretende o meu pai dominar

Infante D. Sanches 14
(Filho de D. Dinis e da amante, Isabel de Aragão)

E se o nosso pai entender
Terás que te conformar
Não tens nada a reclamar
Ele dá a quem quiser o poder
É claro se eu merecer
Do pai mais estimação
O povo não diz que não
Ao que o Rei, nosso pai quiser
Ele é que dispõe e quer
Trazes tu má ilusão.

INFANTE D. AFONSO 15
Se eu tenho bem certeza
Que isso vai acontecer
Um dos dois tem que morrer
Tens a morte à Portuguesa
Com a alma semi-presa
Vive a minha mãe coitada
A tua mãe será enforcada
Se eu um dia reinar
E tu vou-te desterrar
Não és meu irmão não és nada.

INFANTE D. AFONSO 16
O meu pai anda iludido
Pela tua mãe desonesta
Mas pouca vida lhe resta
Andas pelo meu pai persuadido
Tu tens o sentido perdido
Pensas um dia ser Rei
Já um conselho te dei
Para deste reino saíres
Aconselho-te a que te retires
Antes que eu te odeie.
(Fala para Sanches, seu irmão bastardo)

INFANTE D. AFONSO 17
Não me trates por irmão
Eu disso tenho desprezo
Tu breve serás preso
E não terás salvação
Minha mãe sofre a paixão
O meu pai faz a maldade
Assim não é um Majestade
Está mau exemplo a dar
Isto um dia há-de acabar
Acaba de verdade.
(Volta as costas ao irmão)

INFANTE D.SANCHES 18
Recuso mais tua fala
Tu não és digno de mim
Pois terás um triste fim
Eu tenho a minha ala
Quem mais bem pensa, mais cala
Já sei o hei-de fazer
Ao nosso pai hei-de dizer
Ele te dará o castigo
Considero-te meu inimigo
Tens de mim tudo a perder.

REI D. DINIS 19
Parece que estás preocupado?
Sanches, meu filho querido
Vejo-te tão abatido
Conta-me meu filho amado
Estás com cara de zangado
Alguma coisa aconteceu
Foi alguém que te ofendeu?
Conta-me que eu te escutarei
Eu o castigarei
O Rei desta Nação, sou eu.
(Fala para Sanches, seu filho bastardo)

Fundamento "A Rainha Santa Isabel" 2.º episódio

INFANTE D. SANCHES 20
D. Afonso me ofendeu
Ele de mim tem ciúmes
Ele tem esses costumes
Diz que não sou filho seu
Contra si se enraiveceu
Disse-me que não sou digna pessoa
Desconfia que lhe tiro a coroa
Depois da sua morte
Diz que é forte
E que a voz dele um dia soa.

INFANTE D. SANCHES 21
Não sei mesmo que fará
Meu querido pai contra si
O que eu compreendi
Que contra si se revoltará
Diz que de acordo não está
De eu também ser seu filho
Que deve de haver sarilho
E que nós temos segredos
Até fiquei cheio de medos
Não deve seguir bons trilhos.

REI D. DINIS 22
É um filho muito ingrato
Aquele meu filho Afonso
Hei-de-lhe dar um responso
Pois isto é um mau acto
Só tu me tens sido grato
Eu tudo por ti farei
Nunca te abandonarei
Não lhe satisfaço a vontade
Sou eu, sou eu a Majestade
Eu o castigarei.
(Fala para Sanches, zangado com o outro filho, Afonso)

AMANTE (do Rei D. Dinis) 23
Dinis meu Senhor
Estou muito preocupada
Ando sempre sobressaltada
D. Afonso tem mau humor
Eu sei que sinto rancor
Pensa que o Senhor lhe tira a coroa
Não está a ser digna pessoa
Ele do irmão tem ciúmes
Ele nem sabe os costumes
E não nos perdoa.

REI D. DINIS 24
Fica descansada meu amor
Tudo há-de ser normal
Sou o Rei de Portugal
Eu sou um grande Senhor
Se o meu filho for traidor
Deve de ser enforcado
Não tem ninguém a seu lado
Para fazer um COMPLOTE
Sou Rei e sou muito forte
Estou muito bem armado.
(Fala para a amante e beija-a)
REI D: DINIS 25
Adeus até amanhã.

AMANTE (do Rei D. Dinis) 26
Meu filho tu tem cuidado
Com o Afonso teu irmão
Ele tem mau coração
Tens o teu pai a teu lado
Mas não andes descuidado
Que ele pode-te matar
Os ciúmes andam-no a dominar
É pelo demónio dominado
Não abales do meu lado
E deixa-o, deixa-o falar.

Infante D. Afonso 27
(filho legítimo de D. Dinis)

Minha mãe estou irritado
Com aquele Sanches malvado
Um dia será enforcado
Aquele filho bastardo
O meu pai é o culpado
Que lhe dá a protecção
Sendo o Rei da Nação
Mau exemplo está a dar
Nem Deus lhe vai perdoar
Nem a mão lhe dar dê perdão.

RAINHA SANTA ISABEL 28
Acalma meu filho querido
Isso de ti são ciúmes
Sabes segundo os costumes
Tu és sempre o preferido
Não andes assim perdido
Deus te recompensará
Teu pai a coroa te dá
Tu serás o Rei futuro
É assim filho, eu te juro
Nunca penses coisa má.
(Fala para o filho com muita ternura)

RAINHA SANTA ISABEL 29
Sei que teu pai muito gosta
Daquele filho bastardo
Legítimo não é considerado
De ti também não desgosta
Teu pai a ti não demonstra
Mas tudo ele por ti faz
Vê em ti que és capaz
De seres o futuro Rei
E queremos sempre paz.

RAINHA SANTA ISABEL 30
Teu pai vem a chegar.

INFANTE D. AFONSO 31
Querida mãe és uma santa
Sempre te hei-de obedecer
Fazes-me as intenções perder
A tua bondade é tanta
Mas eu sinto na garganta
Um nó que me sufoca
O Sanches me provoca
Sente-se protegido
Eu ando enfurecido
Porque a razão me toca.

RAINHA SANTA ISABEL 32
Adeus meu filho! Tem fé em Deus.

REI D. DINIS 33
O Afonso já cá esteve?

RAINHA SANTA ISABEL 34
Já sim … O que aconteceu?
REI D. DINIS 35
Sei que já tem preparado
Uma revolta contra mim
Terá um triste fim
Será enforcado
Um filho contra o pai revoltado
Não é admissível
Até parece impossível
Tanto que eu o tenho estimado
Tenho que andar aquartelado
Parece incrível.
(Fala zangado para a Rainha)

RAINHA SANTA ISABEL 36
Dinis tem paciência
Como Rei desta Nação
Ao nosso filho dá perdão
Ainda é a inocência
Confia na divina providência
Não haverá sangue derramado
Não manches o teu reinado
Pensamos sempre o melhor
Não penses assim que é pior
Deus te tenha abençoado.
(Fala para o Rei com muita meiguice)

REI D. DINIS 37
Sempre me fazes acalmar
Com as tuas santas palavras
Esperanças para esperar
Nunca te poderei pagar
Como recompensar tua virtude
Fiz por nosso filho o que pude
Para ele ser educado
E agora contra mim revoltado
Até o nosso pensar se confunde.

RAINHA SANTA ISABEL 38
São ciúmes já tu sabes!

RAINHA SANTA ISABEL 39
Descansa a tua alma.