O avô tinha acabado de adormecer no seu velho cadeirão de madeira de nogueira. Tinha os pés sobre um pequeno banco de pele e sobre as pernas estava um livro meio aberto.
O Duarte que, entretanto tinha acabado a brincadeira num outro compartimento da casa, aproximou-se do avô e tocou-lhe nas pernas, para lhe chamar a atenção. O avô acordou, esfregou os olhos...
- Ah, és tu Duarte. Então o que é que queres, meu homem? Anda cá ao colo do avô.
Entretanto, pegou no livro, fechou-o e colocou-o sobre uma pequena mesa, que estava a seu lado.
- Avô, conta-me uma história.
- Agora? Parece que não me apetece lá muito, essa coisa da história. Ainda estou meio a dormir...
- Vá lá, avozinho...vá lá...
- Está bem, se tens assim tanta vontade...
- Sim, gostava tanto...
- Então vamos a isso.
- Mas olha, vamos combinar uma coisa. Não te vou contar uma daquelas histórias de reis, de piratas ou coisas assim parecidas. Embora sejam histórias bonitas de contar e ouvir, eu quero contar-te uma que seja diferente de todas as outras. Está bem?
- Está bem. Então qual é? Perguntou o Duarte cheio de curiosidade.
- Deixa lá ver… deixa lá ver, se me lembro de alguma... Já sei! É sobre a água e chama-se: “A Água é Minha Amiga”.
- Sobre a água? Que chatice. Mas que história é essa sobre a água? Não sei se vou gostar. - disse o rapaz, franzindo o sobrolho. - Não sei não - insistia o Duarte, manifestando o seu desencanto para com o avô.
Este acariciou-o, dando-lhe um beijo, e disse-lhe:
- Vá lá, não te aborreças...
- Senta-te aqui neste cadeirão.
Entretanto o avô, desviou o cadeirão que estava a seu lado e colocou-o à sua frente.
- Já está. Assim estás melhor. Já estás bem instalado? Então vamos lá começar com a nossa história. Vais ver que, se estiveres com atenção, vais gostar. Até é sobre coisas que tu fazes todos os dias. Vamos lá...
- Tu não lavas os dentes?
- Sim, lavo. Então não sabes?! E depois?
- Ora vês! Já te estás a interessar...
- Como sabes, mais de metade do nosso Planeta é formado por água, que é a água do mar, dos rios e dos lagos. O nosso corpo, também tem uma grande percentagem de água. São à volta de setenta por cento. Sabias?
- Não, não sabia. O quê? Eu tenho água no meu corpo? Onde é que está? - Perguntou o Duarte muito admirado.
- Espera, tem calma. Ai este miúdo!
- Sim, todos temos. Nós necessitamos de ingerir diariamente, pelo menos um ou dois litros de água. A humanidade, ou seja, todas as pessoas do mundo, têm à sua disposição, cerca de sete milhões de quilómetros cúbicos de água para a sobrevivência de quase cinco biliões de pessoas que existem no nosso planeta.
A água é um problema tão sério como as alterações climáticas. Os impactos da escassez da água ameaçam o crescimento económico, os direitos das pessoas e a segurança nacional. E nos direitos humanos estão incluídos os direitos das crianças.
- Eu tenho direitos? Ai que bom, ai que bom. Então quais são, avozinho? Quero saber! Diz-me lá!
- Não, tem calma. Qualquer dia, digo-te quais são. Mas nunca te esqueças que também tens deveres. Não tens só direitos. Mas hoje não vamos misturar as coisas, porque se não a história perde um pouco o interesse. Agora deixa-me lá contar-te esta história que, tal como concordámos, ia ser diferente, não foi? Então vamos lá continuar...
Qualquer dia, a paz no mundo é um problema inseparável das alterações climáticas. Não é um problema de moda. É um problema que os homens, mais cedo ou mais tarde, têm de enfrentar e tentar resolver. A falta de água ameaça tornar-se o maior problema do mundo. Se por um lado, nós os europeus, desfrutamos e abusamos do uso da água, as pessoas que vivem noutros países, muito longe e muito diferentes de onde tu vives, chamados Médio Oriente e África, entram em guerra por causa da posse da água. Digo-te mais. Este problema não é novo. Já há muitos milhares de anos, os habitantes de duas grandes cidades que viviam de uma agricultura muito rica, em terras banhadas por uns rios muito grandes chamados Tigre e Eufrates, entraram em guerra, precisamente pela posse da água destes dois rios.
- Avô, avô... Espera lá. Dissestes Tigre?
- Sim, foi isso mesmo que ouviste.
- Mas isso é nome de um animal que vive na selva... é muito perigoso. Não é, avô?
- Sim, é verdade. Mas deixa lá isso agora. Vamo-nos concentrar na nossa história. Como ia dizendo, os povos daqueles países, ainda continuam em guerra. Não é só por causa do petróleo, é também por causa da posse da água. De vez em quando, existem conflitos em África, que são derivados da escassez de água. De uma maneira geral os confrontos, são sempre entre agricultores e pastores e surgem devido à falta da chuva e da água, precisamente por se tornar um bem escasso. Nesses conflitos, morrem muitas pessoas e muitas são obrigadas a abandonar as suas casas. Tudo isto está na origem da seca, a escassez de um recurso vital para a vida, que é a água.
- Como é que dizes, avô? Tanta gente morta? E também morrem crianças? Os homens são muito maus, não são?
- Se são meu filho... E são sempre as crianças que mais sofrem. É sempre assim em todas as guerras... - Respondeu o avô, com os olhos cheios de água, fazendo um esforço para o Duarte não se aperceber da sua fragilidade. - Bom... Vamos lá continuar... Como vês, a água é um bem escasso, essencial à vida. É preciso que se adoptem comportamentos que, no dia-a-dia de cada um de nós, possam contribuir para a preservação do meio aquático. Falar-se da água, é falar-se dum tema sempre actual, sobretudo em tempo de crise, que tanto pode ser a seca como as cheias. Estes fenómenos, são extremamente naturais.
O ser humano, habituou-se a viver sempre à margem da natureza, sem nunca pensar nas consequências. O homem, que tem passado grande parte do seu tempo a domar a natureza, é hoje uma das espécies mais ameaçadas. Os países muito ricos são os principais poluidores da atmosfera. Segundo os cientistas, o consumo de água aumenta cada vez mais de ano para ano e morrem muitas pessoas por falta de água potável. Tudo isto nos interessa e nos deve fazer reflectir. Não te parece?
- Avô, então qualquer dia acaba-se a água... Não me digas que não vou ter água para beber, para lavar os meus dentinhos e tomar banho?
- Vais, mas... é preciso que faças um esforço para contribuíres para um bom ambiente. Não deites lixo para os rios, por exemplo. Há muitas coisas que podes fazer, tu e os teus amiguinhos. Todos nós podemos fazer muita coisa, porque está em causa, como já percebeste, a nossa própria sobrevivência.
- Sabes que há materiais que as pessoas deitam nos rios, nos lagos e no mar, que levam muito tempo a decompor? Por exemplo, o papel leva 3 a 6 meses, um fio de nylon mais de 30 anos, o filtro de um cigarro 5 anos, uma garrafa de plástico mais de 100 anos, uma lata de cerveja, ou de Coca-Cola mais de 100 anos e um frasco de vidro, 1 milhão de anos. A decomposição no solo da pastilha elástica leva cinco anos. Portanto, não deves atirar as pastilhas para os passeios, porque depois gasta-se muito dinheiro na limpeza.
Além de ser muito feio veres as ruas e os passeios todos sujos de pastilhas que as pessoas atiram para o chão.
Muitas vezes acontece que, quando vamos a andar pelos passeios, pisamos as pastilhas e depois dão muito trabalho para as retirar das solas dos sapatos. Já viste a gravidade de toda esta situação? Mas há mais. Por exemplo: Um litro de óleo proveniente das batatas fritas, que tu tanto gostas, e que a maior parte das pessoas lançam nos esgotos, que depois vai para uma ETAR, que é a Estação de Tratamento de Águas Residuais, contamina 1 milhão de litros de água, o equivalente ao consumo de uma pessoa durante 15 anos. Temos todos de ter muito cuidado com o ambiente que o homem continua a degradar.
- Então como é que devo fazer?
- É muito simples. Guardas o óleo dentro duma garrafa, que fechas muito bem, e coloca-la no saco do lixo normal, ou seja o orgânico.
Todo o lixo orgânico vai para um local onde o saco é aberto e feita a sua separação. Assim, a garrafa é aberta e o óleo vazado num recipiente adequado. Como vez, é muito fácil.
Todos temos o dever de contribuir para a preservação da água porque não há vida sem água. Esta é indispensável a todas as actividades humanas; a água é um património de todos, e todos devemos reconhecer o seu valor, cada um de nós tem o dever de a economizar e de a utilizar com cuidado, alterar a qualidade da água, é prejudicar a vida do homem e dos outros seres vivos. Isto que te acabo de dizer está escrito na Carta Europeia da Água, já publicada há dezenas de anos. E os homens continuam descuidados com este problema, o que é muito grave.
Como sabes, a água contribui para o bom funcionamento de todo o nosso organismo. Ajuda no trabalho dos rins e dos intestinos, na circulação sanguínea e na hidratação da pele. Todos os seres vivos têm necessidade de água, e por este motivo é muito importante preservá-la.
Vou dar-te algumas dicas para poupares água e deves também alertar os teus amiguinhos para fazerem o mesmo. Está bem?
Por exemplo: para escovar os dentes, deves utilizar um copo e fechar a torneira quando a escova entra em acção.
Deves preferir o duche ao banho de imersão, mas nunca te esqueças de fechar a torneira enquanto te estás a ensaboar.
Deves dizer aos teus pais para ajustarem o autoclismo para o volume mínimo, regulando o mecanismo de enchimento colocado no interior. Só para teres uma ideia, esta medida reduz o consumo da água em trinta por cento.
Também lhes deves dizer que só devem ligar a máquina de lavar apenas quando estiver completamente carregada, evitando a solução de meia-carga. Não utilizar ciclos desnecessários como a pré-lavagem.
Reduzir ao máximo o consumo de água para lavar os alimentos, loiça ou roupa, utilizando um alguidar.
Olha, sabes que eu sou do tempo em que bebia água da fonte, lá na aldeia. E, muitas vezes, juntamente com outros rapazinhos, assim da tua idade, nadávamos na ribeira, sem medo de apanhar doenças. Mas hoje, já não se pode fazer isso. Tudo está poluído, porque as pessoas não respeitam a natureza. Atiram lixo para os pequenos ribeiros, rios, lagos e para o mar.
A propósito: Sabes que só devemos nadar em águas que têm a bandeira azul e cumprindo sempre as regras de segurança e recomendações divulgadas no local. Nunca te esqueças que isto é muito importante, para evitar acidentes.
Como te prometi, foi uma história diferente. Gostaste? Espero que tenhas aprendido alguma coisa e que tenhas ficado sensibilizado para um problema tão grave e importante, como é este da água.
Luís de Matos