sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Ó Botas de Um Aldrabão

S. Pedro da Gafanhoeira
Bernardino Barco Recharto, 48 anos (Ano 1977)


MOTE
Ó botas dum aldrabão
Que me fizeram coxear
Trago no pé um calão
Já não as posso aturar.
I
Já fiquei escandalizado
Com as botas delicadas
Ao dar tantas caminhadas
Fizeram-me um calo trilhado
Eu com elas tenho gozado
Fica-me de recordação
Já perdi toda a animação
O causador não sei quem é
Já me lixaram o pé
Ó botas dum aldrabão.
II
Sempre tenho sofrido
E tudo me dá abalo
Com o diabo do calo
Trago o pé tão dorido
Cada vez mais ofendido
Disso não me quero lembrar
Às vezes me fazem arreliar
Quando penso no engano
Ó botas dum real cigano
Que me fizeram coxear.
III
Dóem-me bastante as orelhas
Quando os calos me mordem
Armam tamanha desordem
Atingem-me as sobrancelhas
São piores do que as abelhas
Quando ferroadas me dão
Arrematando fico eu então
A minha grande coxeira
Com a volta da brincadeira
Trago no pé um calão.
IV
Tenho querido obedecer
À reza dos sapateiros
Nada são pantomineiros
Estou agora a conhecer
Querem é então fazer ver
Como sabem trabalhar
Se lhe mando assento deixar
Mais eles o roubam às botas
Hoje tenho as pernas tortas
Já não as posso aturar.