S. Tiago Maior
Manuel Romão Mendes – “Ti Romão” (71 anos) Ano 1977
Por muito que um homem corra
Faça lá o que fizer
Mesmo que velhinho morra
Nunca chega aonde quer
Acerca da moça quando namora
I
A moça quando namora
Não assenta a fazer nada
Anda para dentro e para fora
Todo o dia da semanada.
II
Começa logo a cantar
Pela manhã quando se levanta
Para afinar a garganta
Ainda antes de almoçar
III
Depois vai-se pentear
Leva ali mais de uma hora
Quando se vai dali embora
É lá quando lhe convém
O que quer é parecer bem
A moça quando namora
IV
A casa começa a varrer
E se a varrer continua
Em ouvindo alguém na rua
Abala logo a correr
Enquanto o serviço anda a fazer
Anda muito desembaraçada
Mas se ouve alguma resmalhada
Olha para dentro e para trás
Só pensando no rapaz
Não assenta a fazer nada
V
À tarde compõe-se, vai-se ver ao espelho
Com seu vestido da moda
Com saia de pouca roda
Por lado de cima dos joelhos
Com soquetes p’los artelhos
Pareço mesmo bem agora
Mas se o rapaz ainda se demora
E ela já está empampoilada
Já não pode estar parada
Anda p’ra dentro e p’ra fora.
VI
Qundo chega o namorado
Tem-se passado a tardada
Já tenho a vista cansada
Tenho que pôr umas lentes
Para andar para trás e para diante
Todo o dia da semanada
Agora começa a discutir o namorado com a namorada
Sabe Deus como eu cá venho
Amor do meu coração
Eu bem sei que tens razão
Mas eu também a tenho
Qual é que era o meu empenho?
Era estar ao pé de ti
Assim tu fosses para mim
Que era o que eu mais desejava
Nunca a nossa amizade acabava
Sem a morte lhe dar fim.
Agora responde ela
Já tu vens feito fingido
Eu bem sei o que tu queres
Tu pensas que as mulheres
São todas fracas do sentido?
Vai tomar um comprimido
Tu o que tens é dor de barriga
Eu não vou nessa cantiga
Nem hoje nem amanhã
Se por acaso não te convém
Arranja outra rapariga.
Agora responde ele
Arranjo outra rapariga
Olha o teu descaramento
Com esse procedimento
Já estás disposta p’ra brigas
Dá-me cá já as ligas
Que te comprei lá na festa
A quem se contará uma destas
Senão fosse aqui à tua porta
Davas uma cambalhota
Com um murro aí p’la testa
Agora responde ela
Eu disse isso a mangar
Para ver o que tu dizias
Para ver o que tu fazias
E já te estás a zangar
Tomara eu já casar
Tu cuidas que é mangação
Se isto desse na tua mão
Ainda esta tarde
Ia falar com o padre
Para irmos á confissão
Agora responde ele
Se comigo estás ofendida
Eu já te pesso perdão
Para o resto da minha vida
Toma lá a minha mão.
Agora responde ela
A tua mão recebi
Com um amor profundo
Já que te tenho a ti
Não quero mais nada no mundo.
BRINCAS DE ÉVORA
Há 7 anos
Sem comentários:
Enviar um comentário