quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Ouvi Chorar um Operário

ILHAS – ARRAIOLOS
António Luís Figueiras “O Poeta Caldas” 67 anos (Ano 1977)
Quadras feitas no ano de 1937

MOTE
Numa grande capital
Ouvi chorar um operário
Numa rua sobre a lama
Num torturante calvário.
I
Vivia à pouco ainda
Numa casinha modesta
Tendo o coração em festa
Junto a uma filhinha linda
Por uma sina fatal
Penetra no seu casal
Um mal contagioso
Deram-lhe o nome de leproso
Numa grande capital.
II
A sua dor infernal
Lentamente o perseguia
E o pão de cada dia
Foi-lhe faltando afinal
Já sem ter um real
Para pagar ao boticário
Neste país lendário
Que tanto tem brilhado
De miséria rodeado
Ouvi chorar um operário.
III
Já sem os ter que empenhar
P’ra pagar ao senhorio
Cheio de fome e frio
Saía a mendigar
Certo dia vê passar
Um opolente de fama
Pelo seu nome chama
E auxílio lhe pediu
E ao estender-lhe a mão caíu
Numa rua sobre a lama.
IV
Esse burguês retirou
Cheio de orgulho e vaidade
Algema da sociedade
Nem auxílio lhe prestou
Quando a filhinha chegou
Lhe puxa pelo vestuário
Já marcava o calendário
A morte de um desgraçado
Morreu lama abraçado
Num torturante calvário.

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