terça-feira, 23 de outubro de 2007

Amigo Dionísio Mendes

S. Tiago Maior
Manuel Romão Mendes – “Ti Romão” (71 anos) Ano 1977
I
Amigo Dionísio Mendes
Cada um na sua arte
Tu roubávas-me na farinha
E eu roubáva-te os tomates.
II
Todos nós temos defeitos
E puros não o somos
Mas tudo o que nós fazemos
Também já nos têm feito
Não acho justo nem há direito
Não sei se assim o entendes
Naquilo que agente vende
Estar a roubar os fregueses
Mas agente fá-lo tantas vezes
Amigo Dionísio Mendes.
III
O criado rouba o patrão
O patrão rouba o criado
Cada um rouba para seu lado
Naquilo que pode deitar a mão
Se alguém disser que não
Está a fugir ao encarte
Não há ninguém que se farte
Que seja rico que seja pobre
Todos roubam o que podem
Cada um na sua arte.
IV
Quando eras principiante
Logo eu comecei a ver
Mais tarde vinhas a ser
Amigo meu semelhante
Todo o homem negociante
Puxa a brasa à sua sardinha
A tua ideia é igual à minha
O meu sentido é igual ao teu
Pois ainda não me esqueceu
Que tu roubávas-me na farinha.
V
Mas eu cá não me ralava
Com o que tu me fazias
Daí a dois ou três dias
Depressa me as pagávas
Das coisas que me compravas
Nem uma vez te escapáste
Deixemos isso de parte
O que eu te digo decerto
É que tu és muito esperto
E eu roubáva-te os tomates.

Ó Velha Aldeia da Serra

Aldeia da Serra
José Ricardo Domingos (57 anos) Ano 1977

MOTE
Ó Velha Aldeia da Serra
Encontras-te modernizada
Quem te conheceu e quem te conhece
Já não te pareces nada
I
Na minha vida de rapaz
Os carros na minha rua
Andavam mais de recuas
Subir não eram capaz
Vejam a diferença que faz
Nesta minha pequena terra
Quem nisto tudo governa
Por mim será lembrado
Aqui me tens ao teu lado
Ó velha Aldeia da Serra.
II
Tens um posto de educação
Todos sabem corrigir
Sem andarem a pedir
Qualquer explicação
De dentro do coração
Por mim és bem estimada
Por ver que não falta nada
P’ra poder assim falar
Em aldeia estás a morar
Encontras-te modernizada.
III
O serviço desta rua
Está feito com perfeição
Eu sou desta opinião
E cada qual terá a sua
Se isto assim continua
Veremos o que acontece
Já falamos para onde apetece
Sem darmos nem um passo
É por isto que eu estendo o braço
Quem te conheceu e quem te conhece.
IV
Tens estradas para viajar
Para outras pequenas aldeias
Muita gente aqui passeia
Já não chegam a ralhar
Quem se ponha a reparar
Estás toda modificada
Estou-te a ver iluminada
Dou-te os meus elogios
Estás uma vaidosa e com brilho
Já não te pareces nada.