Manuel dos Santos Amaro de Almeida, ou simplesmente o Manel dos Santos como era conhecido. Por ter nascido no dia de Todos os Santos, foi baptizado em homenagem àquele Dia. O Manel dos Santos sempre foi solteiro. De muito novo foi para Lisboa para exercer a profissão de vendedor/caixeiro. Como bom alentejano, nunca esqueceu a sua terra, os seus familiares e amigos. Era meu primo em terceiro grau. O Manel dos Santos era o que se poderia chamar de “um gentleman”. Pessoa muito educada para toda a gente, fosse criança, novo ou velho. Nunca ouvi um palavrão que saísse da sua boca. Tinha uma cultura mediana. Bom falador. Conseguia manter uma conversa com algum nível. Quando se reformou, ainda novo, foi viver para Terena para fazer companhia à mãe, a minha tia Maria, senhora já de idade avançada.
O Manel dos Santos, conhecia Lisboa como poucos homens da província a conhecem. Quando calhava em conversa sobre qualquer local onde se precisasse ir, ou até para testar os seus conhecimentos, o Manel dos Santos, logo prontamente dizia:
– Fica em tal parte. Apanhas o eléctrico ou o autocarro número tal que vás lá ter. Para quem como eu, viveu alguns anos em Lisboa, tinha oportunidade de confirmar que batia tudo certo.
Tudo isso ele, deixou para trás, mas nunca esqueceu a capital onde ganhou o sustento durante muitos anos. Via-se nele um brilho nos olhos quando se falava de Lisboa. Um brilho, como quem está enamorado e por lá deixou toda a sua juventude. As primas, (minha mãe e tias) com mais idade do que ele e com mais dificuldade de movimentos, muitas vezes pediam-lhe que lhe fizesse um favor. Um simples recado de umas para outras, uma ida à farmácia, uma marcação de consulta médica, uma ida à Câmara do Alandroal para pagamento da água, ou à EDP para pagar a luz, ida à padaria, eu sei lá, tanta coisa que ele ajudava a resolver. Em Terena andava sempre a pé. E olha que há percursos bastante íngremes, como a Ladeira do Adro. Quando ia à sede do concelho, ia de boleia. Havia sempre alguém conhecido que o levava.
Em dias de mais movimento e que lhe pedissem, lá estava também a dar uma ajuda nas tarefas de apoio ao restaurante do primo Inácio. O bom do Manel dos Santos estava sempre disponível para ajudar qualquer pessoa e sem pedir nada em troca, o que nos tempos que correm é raríssimo. Só os homens de coração grande, têm essa grandiosidade de alma.
O único trabalho remunerado que lhe conheci em Terena, foi o de vender jornais que, uma livraria de Évora, diariamente lhe faziam chegar à mão. E aí sim, ele tinha a sua compensação monetária. Não era por dinheiro que o fazia. Não senhor. Até porque ele tinha as suas propriedades, das quais recebia rendas. Mas por reconhecer que a leitura de um jornal, era e continua a ser um veículo de cultura. E, como as pessoas em Terena não liam jornais, ele achava que era preciso haver alguém que prestasse aquele serviço à população. E tinha razão. Para mais, que durante toda a sua vida se habituou a ouvir os ardinas da capital, o que ele fazia era absolutamente normal. Fazia-o sem qualquer complexo.
Entretanto a livraria em Évora fechou, e acabou-se aquela tarefa. Desde então, não há em Terena quem venda um jornal. Os interessados terão que se deslocar à sede do concelho para os adquirir. ou pedir a alguém que lhe o compre. O Manel dos Santos deixou-nos. Partiu numa daquelas grandes viagens sem regresso. Para o outro mundo, como se costuma dizer. Mas de certeza, que esteja lá onde estiver, ele está bem, porque só praticou o Bem. Aos setenta e poucos anos, partiu.
A todos nos deixa muita saudade.
O Manel dos Santos, conhecia Lisboa como poucos homens da província a conhecem. Quando calhava em conversa sobre qualquer local onde se precisasse ir, ou até para testar os seus conhecimentos, o Manel dos Santos, logo prontamente dizia:
– Fica em tal parte. Apanhas o eléctrico ou o autocarro número tal que vás lá ter. Para quem como eu, viveu alguns anos em Lisboa, tinha oportunidade de confirmar que batia tudo certo.
Tudo isso ele, deixou para trás, mas nunca esqueceu a capital onde ganhou o sustento durante muitos anos. Via-se nele um brilho nos olhos quando se falava de Lisboa. Um brilho, como quem está enamorado e por lá deixou toda a sua juventude. As primas, (minha mãe e tias) com mais idade do que ele e com mais dificuldade de movimentos, muitas vezes pediam-lhe que lhe fizesse um favor. Um simples recado de umas para outras, uma ida à farmácia, uma marcação de consulta médica, uma ida à Câmara do Alandroal para pagamento da água, ou à EDP para pagar a luz, ida à padaria, eu sei lá, tanta coisa que ele ajudava a resolver. Em Terena andava sempre a pé. E olha que há percursos bastante íngremes, como a Ladeira do Adro. Quando ia à sede do concelho, ia de boleia. Havia sempre alguém conhecido que o levava.
Em dias de mais movimento e que lhe pedissem, lá estava também a dar uma ajuda nas tarefas de apoio ao restaurante do primo Inácio. O bom do Manel dos Santos estava sempre disponível para ajudar qualquer pessoa e sem pedir nada em troca, o que nos tempos que correm é raríssimo. Só os homens de coração grande, têm essa grandiosidade de alma.
O único trabalho remunerado que lhe conheci em Terena, foi o de vender jornais que, uma livraria de Évora, diariamente lhe faziam chegar à mão. E aí sim, ele tinha a sua compensação monetária. Não era por dinheiro que o fazia. Não senhor. Até porque ele tinha as suas propriedades, das quais recebia rendas. Mas por reconhecer que a leitura de um jornal, era e continua a ser um veículo de cultura. E, como as pessoas em Terena não liam jornais, ele achava que era preciso haver alguém que prestasse aquele serviço à população. E tinha razão. Para mais, que durante toda a sua vida se habituou a ouvir os ardinas da capital, o que ele fazia era absolutamente normal. Fazia-o sem qualquer complexo.
Entretanto a livraria em Évora fechou, e acabou-se aquela tarefa. Desde então, não há em Terena quem venda um jornal. Os interessados terão que se deslocar à sede do concelho para os adquirir. ou pedir a alguém que lhe o compre. O Manel dos Santos deixou-nos. Partiu numa daquelas grandes viagens sem regresso. Para o outro mundo, como se costuma dizer. Mas de certeza, que esteja lá onde estiver, ele está bem, porque só praticou o Bem. Aos setenta e poucos anos, partiu.
A todos nos deixa muita saudade.
Luis de Matos