quarta-feira, 7 de novembro de 2007

O Oleiro e a Sua Roda

CARRAPATELO
Francisco Baltazar “”Ti Passinhas” (71 anos) Ano 1977 Analfabeto
I
O oleiro na sua roda
Poucas artes assim são
Todo o dia dá à perna
E é assim que ganha o pão.
II
Faz tarefas e alguidares
Faz cântaros e enfusas
Faz toda a loiça que se usa
E faz bacias p’ra se lavar
Faz tigelas para vidrar
Que até as compõe na moda
O mestre nada o (Encomoda) incomoda
Que a arte dele assim é
Dá milhares de pontapés
O oleiro na sua roda.
III
D’inverso treme com frio
Até tem dor nos braços
Certas horas os pedaços
Até lhe mete fastio
Mas aquele que tem brio
De quem treme faz mangação
Até lhe chama mandrião
Que não se arruma ao serviço
Fiquem certos que é por isso
Poucas artes assim são.
IV
Em vindo o tempo do verão
Quando há muito calor
Já ao barro tem amor
E gosta do fresco na mão
Para dar interesse ao patrão
É assim que se governa
Já não entra na taberna
Que não há tempo a perder
Para ganhar para comer
Todo o dia dá à perna.
V
Trata logo de enfornar
Se tem já a loiça enxuta
Nunca acaba co’a labuta
Se tem barro para coar
Já não pode descansar
Que não tem ocasião
Se tem que fazer serão
Está tratando do forno
Toda a noite põe piorno
E é assim que ganha o pão.