Na aldeia de Hortinhas, o Ti Miguel Joaquim Martins Coelho, mais conhecido por Miguel da Deluques, alcunha que deriva por ter vivido no monte do Lucas, foi um pequeno e médio agricultor. Era um homem alto e seco. Usava chapéu preto, colete e botas cardadas. O relógio de algibeira, era um instrumento imprescindível com as suas correntes de prata que usava no dia a dia. Para os dias de festa e para os mais importantes, trocava as correntes de prata por umas de ouro. Como convinha aos homens abastados da época. E o Ti Miguel era um dos homens abastados da aldeia. Era até considerado um homem rico e respeitado. Morava em Hortinhas. Ali mesmo defronte onde é hoje o Centro Cultural mas que na época, tudo era uma tapada. Hoje há uma estrada alcatroada, com passeios de um lado e outro, uma escola primária e uma casa de habitação para a professora. Casas modernas, com todas as comodidades, mas também não faltam as casas típicas da região, o que lhe poderá vir a conferir o título de Aldeia Típica, ou coisa parecida. Existia apenas uma azinhaga por onde só passavam as carroças e o gado. Actualmente, muita coisa mudou. Está uma aldeia adaptada à vida moderna. Na varanda da casa do ti Miguel, existia uma parreira como aliás, é tradição em qualquer monte alentejano, embora hoje a parreira já não exista. Das duas uma. Ou secou ou a arrancaram quando adaptaram o monte às exigências da vida moderna.
O Ti Miguel, tinha dois carreiros a trabalhar na lavoura. Eram eles, o ti Moisés Bico e o ti Miguel Leitão, mais conhecido por Miguel Lampo. Naquela época, os trabalhadores levantavam-se de madrugada para ir buscar o pão prá eira e o Ti Miguel dormia debaixo da parreira. Chegava a noite e vinha a ceia. O repasto era debaixo da parreira. O Ti Miguel só dava uvas como sobremesa, quando elas já não prestavam. Os carreiros pensaram que tinham que comer uvas enquanto elas fossem boas e trataram de meter mãos à obra. Finda a ceia, os carreiros ataram uma parelha com a carroça à outra carroça, mandaram as parelhas embora e esconderam-se atrás das paredes da tapada em frente, que ainda hoje lá existe. Enquanto o Ti Miguel levantava a mesa, entrava em casa para deixar os pratos e o que tinha sobrado da ceia, um dos carreiros, o mais ágil, saltou a parede, atravessou a rua, entrou na varanda do monte e nessa curta ausência do Ti Miguel o carreiro colheu uns cachos de uvas. Ora, o Ti Miguel, depois da ceia, tinha por hábito estender uma esteira de buinho e nela se deitava para dormir debaixo da sua parreira. Quando de madrugada acordava e enquanto não espertava completamente duma noite bem dormida, olhava para a parreira e achava falta de alguns cachos de uvas.
- Pensava para si, o Ti Miguel:
- As uvas estão a desaparecer.
- Ora essa! Mas como é que isto acontece?
- Tenho que apanhar o ladrão! Todos os dias me desaparecem dois cachos de uvas!
- À hora das refeições lá vinha a conversa das uvas. Alguma vez ele desconfiava que eram os carreiros? Nem pensar uma coisa dessas.
Ó Joquina (mulher)! Colheste algum cacho de uvas?
Eu?. Não.
Ó Maria (filha)! Não mexeste nas uvas?
Eu? Não.
E tu Rosa (filha)?
Eu também não.
Ora essa! Então todos os dias me faltam aqui dois cachos de uvas. Ora essa! Tenho que apanhar o ladrão. Mas nunca o conseguiu. O ti Moisés Bico, acabou por fazer umas décimas dedicadas ao ladrão das uvas.
Luís de Matos
O Ti Miguel, tinha dois carreiros a trabalhar na lavoura. Eram eles, o ti Moisés Bico e o ti Miguel Leitão, mais conhecido por Miguel Lampo. Naquela época, os trabalhadores levantavam-se de madrugada para ir buscar o pão prá eira e o Ti Miguel dormia debaixo da parreira. Chegava a noite e vinha a ceia. O repasto era debaixo da parreira. O Ti Miguel só dava uvas como sobremesa, quando elas já não prestavam. Os carreiros pensaram que tinham que comer uvas enquanto elas fossem boas e trataram de meter mãos à obra. Finda a ceia, os carreiros ataram uma parelha com a carroça à outra carroça, mandaram as parelhas embora e esconderam-se atrás das paredes da tapada em frente, que ainda hoje lá existe. Enquanto o Ti Miguel levantava a mesa, entrava em casa para deixar os pratos e o que tinha sobrado da ceia, um dos carreiros, o mais ágil, saltou a parede, atravessou a rua, entrou na varanda do monte e nessa curta ausência do Ti Miguel o carreiro colheu uns cachos de uvas. Ora, o Ti Miguel, depois da ceia, tinha por hábito estender uma esteira de buinho e nela se deitava para dormir debaixo da sua parreira. Quando de madrugada acordava e enquanto não espertava completamente duma noite bem dormida, olhava para a parreira e achava falta de alguns cachos de uvas.
- Pensava para si, o Ti Miguel:
- As uvas estão a desaparecer.
- Ora essa! Mas como é que isto acontece?
- Tenho que apanhar o ladrão! Todos os dias me desaparecem dois cachos de uvas!
- À hora das refeições lá vinha a conversa das uvas. Alguma vez ele desconfiava que eram os carreiros? Nem pensar uma coisa dessas.
Ó Joquina (mulher)! Colheste algum cacho de uvas?
Eu?. Não.
Ó Maria (filha)! Não mexeste nas uvas?
Eu? Não.
E tu Rosa (filha)?
Eu também não.
Ora essa! Então todos os dias me faltam aqui dois cachos de uvas. Ora essa! Tenho que apanhar o ladrão. Mas nunca o conseguiu. O ti Moisés Bico, acabou por fazer umas décimas dedicadas ao ladrão das uvas.
Luís de Matos
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