quinta-feira, 1 de setembro de 2016

O Velho Gasparão

O Ti Gaspar, mais conhecido por Velho Gasparão, era um homem muito alto, forte e com uma grande barriga. Toda a sua vida foi Guarda de Pastagens no Monte do Pigeiro.  Andava sempre de mochila às costas. Usava calças de cotim e camisa aos quadradinhos pequenos e bota cardada. A camisa era atada mesmo por cima do cinto de cabedal. Era natural de Terena e morava na rua das casas novas, mais ou menos defronte do prédio do Dr. Galhardas. Depois de reformado passou a andar de monte em monte como guardador de gado, em substituição dos maiorais que por qualquer motivo tinham que se ausentar e faziam-no por vários motivos; por doença, casamento ou por falecimento de um familiar ou amigo.
O Velho Gasparão tinha fama de comer muito e pelos vistos tinha também o proveito. Certo dia, o Ti Joaquim Alho que era o cozinheiro do Monte do Pigeiro viu que o Velho Gasparão se aproximava do monte e disse para os presentes.
     Olhem! Vem além o Velho Gasparão. O que é que acham? Vamos pregar-lhe uma partida?
Todos concordaram.
Quando o Velho chegou, como pessoa educada que era, cumprimentou com um “Boas Tardes”, ao que todos corresponderam.
     Então Ti Gaspar já ceou hoji?
     Nã senhori, mas comia umas sepinhas, se prá aí houvesse.
     Então nã há-de havêri Ti Gaspari!. Vou-lhe fazêri uma açorda, disse-lhe o cozinheiro.
     Está bem. Munto obrigado.
Era normal, que nos montes houvesse sempre uma panela de ferro com água ao lume. O Cozinheiro começou de imediato a pisar os tempêros, que eram poejos e pôs-lhe duas ou três malaguetas para testar o sabor e para ver até que ponto o estômago do bom do Ti Gaspar aguentava, pois tinha fama de comer muito. Enquanto esperava que a água fervesse em cachão, migou um pão de quilo para as sopas da açorda, colocou os temperos e o azeite num  alguidar de barro, certamente comprado ao Ti Firmino ou ao irmão que eram louceiros do Redondo e que andavam por aldeias e montes a vender loiça e abafou a açorda para o pão crescer bem. Passados uns cinco ou dez minutos, já o pão tinha crescido quase para o dobro. Pensou o Ti Joaquim Alho. Está mesmo boa. Hoje é que vamos ver até que ponto é que o Velho Gasparão come muito.
O cozinheiro chamou então o bom do homem para se sentar à mesa, que a açorda estava pronta.
Enquanto o Velho Gasparão ía comendo a açorda, os outros, com os olhos arregalados por tão grande apetite, assistiam a todo este quadro. O Velho comeu a açorda toda e, também bebeu o caldo.
Perguntou-lhe o cozinheiro.
     Então Ti Gaspar a açorda estava boa?
Se estava! Só foi pena o caldo ter um bocadinho de picante a mais.
Luís de Matos

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