domingo, 1 de fevereiro de 2009

O Meu Passeio às Baleias no Mar dos Açores

Foto: Golfinhos-Açores - Luís de Matos
Estava um dia de sol de verão e a temperatura amena.
O avô resolveu levar o neto a dar um passeio à beira mar.
Sentaram-se os dois a descansar num daqueles bancos existentes na avenida, olhando o mar, as gaivotas esvoaçando rente à água e os barcos atracados no porto.
- Avô, avô, quero ir ver as baleias. Dizem que há tantas, tantas, ali...
- Ali? Onde?
- Sim, ali, e o Duarte, com o seu pequeno dedo, apontava na direcção do mar.
Então o avô, sentiu-se na obrigação de explicar que não são assim tantas como ele pensa. Mas antes de passar a essa explicação, o avô tentou acalmar o ímpeto da criança, dizendo-lhe:
- Sim está bem, qualquer dia vamos ver as Baleias.
- Boa, boa... eh, eh, eh...
- Sabes, até acerca de trinta anos atrás, os homens capturavam as baleias, para poderem ganhar o sustento para as suas famílias. Era um trabalho, que fazia parte da vida tradicional das ilhas. Era muito perigoso. Vê tu, que os homens iam para o mar em pequenos barcos e levavam arpões nas mãos para pescar as baleias.
- Avô, mas o que eram os arpões?
- Então os arpões são um pau muito comprido e que na ponta tem uma farpa de ferro que os homens atiravam, espetavam nas baleias e estas morriam. Na outra extremidade tem presa uma corda e esta por sua vez ligada ao barco, para depois ser puxada para terra. Já viste o que elas, coitadas, sofriam? Felizmente que hoje em dia os arpões foram substituídos por máquinas fotográficas digitais, que os turistas não se cansam de carregar o dedo no botão de disparo, fazendo bonitas e belas fotografias.
- Bom, mas deixa-me lá continuar. Depois as baleias começaram a ser menos, e os governantes tiveram que proibir a sua captura, para não se extinguirem. Mas os homens têm que continuar a ganhar dinheiro para a sua alimentação e das suas famílias. E assim, os homens que antes pescavam as baleias, começaram a empregar os seus conhecimentos do mar e das baleias na vigilância e na sua conservação. Hoje em dia, existe uma actividade de observação destes cetáceos que veio substituir a caça por uma maneira pacífica de apreciar estes animais no seu habitat natural. Como sabes existe uma ilha chamada ilha do Pico. Os homens dessa ilha eram os que pescavam mais baleias, e quase iam acabando com elas, como já te disse. Também existem em grande número nas Ilhas de S. Miguel e do Faial. Então, esses homens, tomaram consciência do seu erro, abandonaram a captura desses animais e dedicaram-se a essa tradição de forma pacífica. Até criaram um museu. Vê tu bem. Que ideia tão boa! Não achas?
- Sim, isso é bom, respondeu o Duarte muito entusiasmado com a conversa.
- Pois é. Nesse museu, e noutros locais, existem referências a todos esses animais. Até dos dentes e dos ossos das baleias, os pescadores fizeram bonitas peças de artesanato, representando cenas sobre a captura desses grandes animais. Como sabes são muito grandes. Por exemplo: as crias quando nascem têm cerca de quatro metros e pesam muitos quilos. Quase mil. Dá para imaginares esses quilos todos? Bom, com o tempo vais aprender.
- Bem... sei que devem ser muitos...
- Sim, são muitos. Mas continuando. As baleias dão de mamar aos filhos, e só ao fim de um ano de vida começam a ingerir alimentos sólidos, mas podem continuar a mamar até aos 4 ou 5 anos. Nadam a uma profundidade muito grande e comem muitos quilos de peixe. Podem beber cerca de vinte litros de leite por dia. Já viste? É muito leite, não é?
- Sim. - Respondia o Duarte um pouco confuso, com todos estes números.
- Sabes que os machos, tornam-se sexualmente activos entre os 18 e os 20 anos e medem nessa altura, 12 ou 13 metros? Mas continuam a crescer até aos quarenta metros. As fêmeas, ou seja, as baleias tornam-se sexualmente activas entre os 4 e os 9 anos de idade, e medem oito ou nove metros. Há ainda outra questão, não menos importante do que te acabo de explicar, que são as ameaças ao habitat natural das baleias. Esta ameaça está relacionada com o aquecimento global, a poluição e o buraco da camada de ozono. Noutros países, onde o aumento da pesca industrial é muito grande, contribui para a diminuição da alimentação das baleias. Por vezes ficam presas nas redes, o que também contribui para a sua extinção.
- Ó avô, falaste em buraco do ozono. O que é isso? É que eu ainda sou muito pequeno. Não percebo.
- É normal. Um dia irás perceber. Mas, entretanto, vou tentar explicar-te, à minha maneira, porque eu também não sou especialista na matéria, e isto é muito complicado. Como sabes, existem homens que estudam este fenómeno, que afecta todo o Planeta. E se o homem não toma medidas urgentes, é a nossa própria sobrevivência que está em causa. O ozono é uma molécula constituída por três átomos de oxigénio, que tem a particularidade de absorver a radiação ultravioleta proveniente do sol, actuando como um filtro para proteger os seres vivos da radiação ultravioleta.
- E o que são ultravioletas? São algumas flores?
- Não deixa-me continuar, que irás perceber. Como ia dizendo, estas radiações, desde que sejam em pequenas quantidades, são úteis à vida, como por exemplo, as plantas. Mas a exposição prolongada ao sol, faz muito mal. Por exemplo; quando vais à praia não te podes expor muito tempo ao sol, para não te queimares. Se não tiveres cuidado com o sol, podes sofrer consequências ao fim de alguns anos, como o envelhecimento da pele, e o que é mais grave e mais temido, é o cancro da pele. Sabes isso, não sabes? É por isso, que os teus pais te põem um creme protector e vestes uma camisola, para não apanhares sol directamente na pele. A destruição da camada de ozono, leva ao aumento de raios ultravioletas. Portanto, quando estes raios atingem a terra provocam problemas também ao nível dos ecossistemas marinhos. Esta é uma das razões porque há menos baleias e golfinhos. Mas não só. Outra razão são os lixos tóxicos, os químicos que por vezes as fábricas, por descuido ou maldade dos homens, lançam nas águas dos rios e ribeiros, que depois correm para o mar, ou são deitados directamente no mar. Por vezes acontecem grandes catástrofes, como o derramamento do petróleo no mar e nas praias. Outras vezes, são feitas lavagens dos porões dos navios em alto mar, onde depois lançam os produtos químicos e águas contaminadas. Tudo isto acontece pela acção directa do homem, prejudicando e acabando com a vida desses maravilhosos animais. Percebeste?
- Mais ou menos. Respondeu o Duarte, coçando a cabeça, como quem não está muito convencido da explicação acabada de ouvir.
Por sua vez, o avô notando a reacção do Duarte, disse-lhe:
- Bom, mas um dia, vais perceber isto melhor... Ai este miúdo! Actualmente, podemos observar os cetáceos em diversos tipos de barcos, propriedade de empresas que se dedicam à observação das baleias e dos golfinhos. Os profissionais destas empresas, tomaram uma consciência tão grande que impedem a perturbação destes mamíferos e contribuem para uma sã convivência entre o homem e a baleia. Uma das regras é desligar os motores dos barcos na presença dos cetáceos a uma distância de cinquenta metros e não se pode estar no local mais de trinta minutos. Actualmente e cada vez mais, estes cetáceos continuam presentes na vida do povo açoreano, através de uma forma mais sublime e dignificante.
- Ó avô, o que são os cetáceos?
- Bom, estava a ver que não tinhas dúvidas. Já há bocado tinha empregado esta palavra e não me perguntaste. Mas eu digo-te. Há diversos tipos de cetáceos, como as baleias e os golfinhos. Existem de várias dimensões, sendo que o golfinho é o mais pequeno com cerca de dois metros. O maior é a baleia azul que mede em média vinte a vinte e cinco metros de comprimento, sendo considerado o maior animal existente na terra. Há muitas espécies de golfinhos e de baleias.
- Só para teres uma ideia, queres que te diga alguns nomes?
- Sim, quero aprender, diz-me lá.
- Então escuta com atenção. Por exemplo; há o golfinho riscado, golfinho pintado, golfinho de bico comprido, golfinho comum, golfinho grampo e golfinho roaz. Quanto às baleias; existe a baleia azul, a baleia piloto, baleia bico-de-garrafa, baleia bico de pato, baleia anã, baleia comum, baleia de bossas, baleia boreal, cachalote, eu sei lá...Há muitas espécies. Mas é o cachalote que tu mais podes ver aqui na tua terra, os Açores. Estou cá a pensar, que amanhã podemos ir ver as baleias.
- Boa, boa, avô. Ai que bom, ai que bom...
E assim foi. Partimos para Vila Franca do Campo, para contactar uma daquelas empresas que agora se dedicam a mostrar as baleias aos turistas. Antes de partirmos para o mar para irmos ver as baleias, tivemos uma sessão explicativa durante alguns minutos, para que os participantes saibam o que vão ver e como vai decorrer a viagem. Vestimos coletes salva-vidas. Em terra existem os vigias, colocados em pontos estratégicos e de boa visibilidade, que dão as coordenadas via rádio para as embarcações. No nosso caso, o barco onde íamos, era um semi-rígido de 8 ou 10 metros de comprimento e levava 10 ou 12 pessoas. Partimos, portanto, de Vila Franca do Campo em direcção a sudoeste. Fizemos uma diagonal, na direcção de Ponta Delgada, mas para o mar alto. Ao fim de meia hora, avistámos um grupo de golfinhos e cachalotes, que nadavam a uma velocidade incrível, saltando aqui e acolá. Os golfinhos nadavam mais perto do barco. Foi o delírio do Duarte.
- Olha ali, olha ali, gritava o Duarte.
- E com o seu pequeno dedo, apontava na direcção da tartaruga, que ali estava sozinha no mar alto. Sabe-se lá de onde vinha e para onde ia o pobre animal.
- Eu quero apanhá-la, eu quero...
- Não. Não se pode. Nem somos capazes de o fazer. Mas mesmo que fossemos, não o devemos fazer. Foi assim, que os homens foram acabando com estes fantásticos animais. Depois voltamos a fazer outra diagonal e voltamos para Vila Franca do Campo, circundámos o Ilhéu de Vila Franca, que dista mil metros da costa. É um local maravilhoso, classificado como reserva natural.
E assim, o Duarte passou um dia inesquecível, fazendo amigos impossíveis de lhes tocar, a não ser algum dia num daqueles parques de diversões, onde os golfinhos nadam, saltam e vêm à borda do tanque beijar as crianças.
Luís de Matos
17/08/2008

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