Foto: Luís de Matos
Conta-se que um dia, já ao escurecer, no inicio de uma noite de Inverno, o ti Gaspar, mais conhecido por velho Gasparão, sem qualquer tipo de ofensa, Deus me livre, mas era assim que a garotada e até os mais velhos o tratavam, pois sempre ouvi tratarem o Ti Gaspar daquela maneira, quando se dirigia para casa, apanhou umas boletas na Vila Velha e vá de as meter nas mangas da jaqueta. Encheu as mangas e atou-as com um atilho. Meteu-se a caminho pela estrada da Boa Nova. A estrada estava longe de ser alcatroada. Forçosamente, tinha que passar frente ao cemitério. Não havia outro caminho. Nem uma simples vereda. Quando passava mesmo em frente à porta do cemitério, começou a ouvir um som, do tipo, tac, tac, tac. Desconfiado, olhava para trás mas não via nada. Mais desconfiado ficava. Começou a andar mais depressa, mas quanto mais depressa andava, mais repetidamente o som se ouvia devido ao maior número de boletas que caiam.
Quando chegou a casa, ia com a cara toda rosada e cansado, pois era um homem alto, forte e com uma razoável barriga. Era natural que se cansasse mais facilmente. A mulher, ao vê-lo naquele estado perguntou-lhe:
– O que é que tens homem?
– Parece que viste um fantasma!
O Ti Gaspar, não era capaz de falar, tal foi o medo que apanhou. Quando se acalmou é que reparou que não trazia boletas nenhumas. Foi então que se apercebeu que o receio era proveniente do som das boletas que caiam das mangas da jaqueta, pois tinham ficado mal atadas.
Luís de Matos
BRINCAS DE ÉVORA
Há 7 anos
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