Um dia, no Centro Cultural das Hortinhas, à conversa com o ti António Francisco Duarte Dias, mais conhecido por ti António Marono, natural e residente em Hortinhas disse-me que, na década de cinquenta, quando tinha 22 anos foi de carreiro para o monte dos Vecentis, fica ali perto de Terena. Conhece? Claro que conheço, ti António. Então quer lá vêri. Vou-lhe contar uma:
Um dia, estava eu em cima do gargalo daquele poço que fica à roda do rebêro, a tirari água com um caldêro para encher a pipa. Era eu um rapagão. Andava o “Zidoro Guimar” mais o “Pádri Sardinhêro”. António Silva, de seu nome próprio, disse-lhe eu. Esse mesmo. Acho qu’era assim que se chamava. pois. Mas continuando. Andavam a cavári à roda duma azenhêra, prá arrancári.
Diz o “Pádri Sardenhêro”:
– Fujam c’azênhêra vai cairi.
Mas disse aquilo só pra m’assustári. Naqueles tempos difíceis, em que quase não havia trabalho, os homens tinham que puxar pela cabeça para arranjar formas de sobrevivência da família. Ora, o Pádri Sardenhêro, que tinha uns poucos de filhos, não passavam nada bem, o que era normal na época. Então tinha um meloal lá no Monte Inverno, que fica bem perto do Monte dos Vecentis. Se a colhêta fosse boa, sempre dava fartura prá casa e até podia fazer uns tostões pró pão, pagar na mercearia e para beber uns copitos na taberna do Manitas ou do ti Henrique Góis. Vai daí, um dia encontrei-o. Já tinha bebido um copo a mais, vira-se pra mim e, arrastando a voz disse-me:
– Lá no Monte dos Vecentis, ê livrê-te da mórti, (lembrou-se daquela brincadeira da azinheira) mas agora acabo contigo.
– E queria mandar-me pra dentro do poço.
Foi cá uma carga de trabalhos pró convencêri a não fazer aquela asnêra. E de que manêra, pois eu é que pagava as favas ca minha vida.
Pensei pra comigo. Entã nã queres lá veri! O cabrão do padre, (no bom sentido) está com os copos e estou metido numa carga de trabalhos. É qu’ele era implicanti como o caráaaaças. Quando se lhe metia uma coisa na cabeça… Estava a vêri a coisa um pouco feia.
– Deixe-se lá disso, vá lá mas é a vêri do meloal. Olhe q’as lebres comem-lhe os melões, ti Pádri.
Lá o convenci, mas fez-me cá apanhar um calôri! Sim senhori, essa é qué essa.
Quer ver outra dêli?
Claro, ti António, estamos aqui para isso.
O Pádri Sardenhêro, era uma pessoa munnnto engraçada e intligennnti. Nessa época havia fómi. Ainda hoji é conhecida como a época da fómi. E, atã o “Pádri Sardenhêro”, agarrava num cântaro de barro e dezia qu’ ia buscar água, mas era só pra despistári a Guarda. É que nessa época, a Guarda andava em cima dos póbris. Ele trazia-o mas era cheio de favas pra dar de comêri ós filhos. Ora, isto nã lembrava nem ó diabo. Só poderia sair duma pessoa intligenti c´mó Pádri Sardenhêro porqu’ era realmenti uma pessoa munnnto esperta. A necessidadi é mestra d’ engenhos nã é?Claro que é ti António.
Luís de Matos
Um dia, estava eu em cima do gargalo daquele poço que fica à roda do rebêro, a tirari água com um caldêro para encher a pipa. Era eu um rapagão. Andava o “Zidoro Guimar” mais o “Pádri Sardinhêro”. António Silva, de seu nome próprio, disse-lhe eu. Esse mesmo. Acho qu’era assim que se chamava. pois. Mas continuando. Andavam a cavári à roda duma azenhêra, prá arrancári.
Diz o “Pádri Sardenhêro”:
– Fujam c’azênhêra vai cairi.
Mas disse aquilo só pra m’assustári. Naqueles tempos difíceis, em que quase não havia trabalho, os homens tinham que puxar pela cabeça para arranjar formas de sobrevivência da família. Ora, o Pádri Sardenhêro, que tinha uns poucos de filhos, não passavam nada bem, o que era normal na época. Então tinha um meloal lá no Monte Inverno, que fica bem perto do Monte dos Vecentis. Se a colhêta fosse boa, sempre dava fartura prá casa e até podia fazer uns tostões pró pão, pagar na mercearia e para beber uns copitos na taberna do Manitas ou do ti Henrique Góis. Vai daí, um dia encontrei-o. Já tinha bebido um copo a mais, vira-se pra mim e, arrastando a voz disse-me:
– Lá no Monte dos Vecentis, ê livrê-te da mórti, (lembrou-se daquela brincadeira da azinheira) mas agora acabo contigo.
– E queria mandar-me pra dentro do poço.
Foi cá uma carga de trabalhos pró convencêri a não fazer aquela asnêra. E de que manêra, pois eu é que pagava as favas ca minha vida.
Pensei pra comigo. Entã nã queres lá veri! O cabrão do padre, (no bom sentido) está com os copos e estou metido numa carga de trabalhos. É qu’ele era implicanti como o caráaaaças. Quando se lhe metia uma coisa na cabeça… Estava a vêri a coisa um pouco feia.
– Deixe-se lá disso, vá lá mas é a vêri do meloal. Olhe q’as lebres comem-lhe os melões, ti Pádri.
Lá o convenci, mas fez-me cá apanhar um calôri! Sim senhori, essa é qué essa.
Quer ver outra dêli?
Claro, ti António, estamos aqui para isso.
O Pádri Sardenhêro, era uma pessoa munnnto engraçada e intligennnti. Nessa época havia fómi. Ainda hoji é conhecida como a época da fómi. E, atã o “Pádri Sardenhêro”, agarrava num cântaro de barro e dezia qu’ ia buscar água, mas era só pra despistári a Guarda. É que nessa época, a Guarda andava em cima dos póbris. Ele trazia-o mas era cheio de favas pra dar de comêri ós filhos. Ora, isto nã lembrava nem ó diabo. Só poderia sair duma pessoa intligenti c´mó Pádri Sardenhêro porqu’ era realmenti uma pessoa munnnto esperta. A necessidadi é mestra d’ engenhos nã é?Claro que é ti António.
Luís de Matos
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