Alandroal
Josué da Silva Batista (55 anos)-Ano 1977
Barba cerrada e grisalha,
Um ar sempre prazenteiro,
Percorria o povoado
Gritando nun alto prado:
“Compram-se peles de coelho!”
II
Nunca fez mal a ninguém.
P’ra tudo tinha chalaça.
Mas, perante alguém que sofria
Transformava-lhe o rosto
E a sua voz galhofeira
Mostrava bem que sentia,
Na alma-pura,talvez!-
A dor da melancolia ...
III
Era o velho “Zé Cigano”
Que o rapazio adorava,
Porque lhe contava histórias,
No verão às esquinas das ruas,
Quando a luz em céu estrelado
Melancólica passava ...
IV
Ouvi-lo contar a história
De um velhinho que sofrera
P’ra não maltratar um aio
Que a rico senhor servia,
Era a coisinha mais bela
Que a linguagem singela
Do pobre velho sabia ...
V
Descrevia em pormenor
Tudo quanto lhe ocorria
E, na representação
Da “história” que ia contando,
O pobre velho chorava,
Ria e por fim cantava
Radiante de alegria ...
VI
Mas um dia o “Zé Cigano”
Deixou de ouvir-se na aldeia
E toda a gente o estranhava,
Uns a outros perguntando
Que seria feito dele
Que seria feito dele
Que a sua voz não soava!
VII
Tinha sido vitimado
Por doença mui cruel
E não podia mover-se
Nem gritar por toda a terra
Como antes sempre fizera.
VIII
O rapazio lá passava
Por casa do “Zé Cigano”,
Se é que casa se chamava
O casebre onde vivia
E todos os confortavam
E lhe davam que comer,
Mas ele já não podia
Mais que num gesto agradecer
- Estava prestes a agonia ...
IX
Cerrou os olhos, finou-se
O pobre do “Zé Cigano”
E o lugar ficou mais pobre
Porque um pobre lhe morria,
Pois já não tinha ninguém
Que fosse como ele foi,
Criado sem pai nem mãe,
Sem família, sem ninguém,
E tão ligado às famílias
Que na pobre terra havia.
X
Sempre alegre e prazenteiro,
Na modéstia do seu ser,
Tudo nele era uma graça,
Todo ele era alegria ...
XI
Foi como um anjo do céu
Transformado num mendigo
Que ali viera ensinar
Na forma mais eloquente,
Mais modesta e sem igual,
Que a terra nos pode dar,
Como o amor é singular!
XII
No dia do funeral
Toda a aldeia chorou.
Lá foram pobres e ricos
Acompanhar o mendigo
Que também sobe ensinar
O que Jesus ensinou ...
XIII
Foi o amor a sua arte
Que não vitima ninguém
Mas que é forte e é terrível
P’ra aqueles que dela abusam,
Como se fosse possível
Do ódio tirar partido,
XIV
E, desde que o “Zé Cigano”
Pr’a esta vida morreu
A terra ficou mais pobre
Mas ficou mais rico o céu!
Josué da Silva Batista (55 anos)-Ano 1977
Barba cerrada e grisalha,
Um ar sempre prazenteiro,
Percorria o povoado
Gritando nun alto prado:
“Compram-se peles de coelho!”
II
Nunca fez mal a ninguém.
P’ra tudo tinha chalaça.
Mas, perante alguém que sofria
Transformava-lhe o rosto
E a sua voz galhofeira
Mostrava bem que sentia,
Na alma-pura,talvez!-
A dor da melancolia ...
III
Era o velho “Zé Cigano”
Que o rapazio adorava,
Porque lhe contava histórias,
No verão às esquinas das ruas,
Quando a luz em céu estrelado
Melancólica passava ...
IV
Ouvi-lo contar a história
De um velhinho que sofrera
P’ra não maltratar um aio
Que a rico senhor servia,
Era a coisinha mais bela
Que a linguagem singela
Do pobre velho sabia ...
V
Descrevia em pormenor
Tudo quanto lhe ocorria
E, na representação
Da “história” que ia contando,
O pobre velho chorava,
Ria e por fim cantava
Radiante de alegria ...
VI
Mas um dia o “Zé Cigano”
Deixou de ouvir-se na aldeia
E toda a gente o estranhava,
Uns a outros perguntando
Que seria feito dele
Que seria feito dele
Que a sua voz não soava!
VII
Tinha sido vitimado
Por doença mui cruel
E não podia mover-se
Nem gritar por toda a terra
Como antes sempre fizera.
VIII
O rapazio lá passava
Por casa do “Zé Cigano”,
Se é que casa se chamava
O casebre onde vivia
E todos os confortavam
E lhe davam que comer,
Mas ele já não podia
Mais que num gesto agradecer
- Estava prestes a agonia ...
IX
Cerrou os olhos, finou-se
O pobre do “Zé Cigano”
E o lugar ficou mais pobre
Porque um pobre lhe morria,
Pois já não tinha ninguém
Que fosse como ele foi,
Criado sem pai nem mãe,
Sem família, sem ninguém,
E tão ligado às famílias
Que na pobre terra havia.
X
Sempre alegre e prazenteiro,
Na modéstia do seu ser,
Tudo nele era uma graça,
Todo ele era alegria ...
XI
Foi como um anjo do céu
Transformado num mendigo
Que ali viera ensinar
Na forma mais eloquente,
Mais modesta e sem igual,
Que a terra nos pode dar,
Como o amor é singular!
XII
No dia do funeral
Toda a aldeia chorou.
Lá foram pobres e ricos
Acompanhar o mendigo
Que também sobe ensinar
O que Jesus ensinou ...
XIII
Foi o amor a sua arte
Que não vitima ninguém
Mas que é forte e é terrível
P’ra aqueles que dela abusam,
Como se fosse possível
Do ódio tirar partido,
XIV
E, desde que o “Zé Cigano”
Pr’a esta vida morreu
A terra ficou mais pobre
Mas ficou mais rico o céu!
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