O Manuel Inácio Mira, natural de Terena, mais conhecido por Mestre Manel Sapateiro nunca chegou a casar, apesar de ser, o que se podia chamar, uma boa figura de homem. Sempre viveu com a mãe e quando esta morreu, passou a viver com a irmã. A Tia Maria tem hoje perto de noventa anos. Felizmente com boa saúde, tendo em atenção a avançada idade. Foi, portanto um solteirão. O mestre Manel já nos deixou há um bom par de anos. Conheceu-se-lhe apenas uma namorada e ao que parece teve um grande desgosto quando acabou o namoro. Era uma pessoa extremamente simpática para toda a gente e tinha uma graça sempre na ponta da língua. Era um gosto falar com o mestre Manel. Pessoa correcta, educada e excelente contador de estórias e anedotas. Era o que se podia chamar de um bom mestre.
Gostava de beber o seu copito. Algumas vezes faltava aos compromissos profissionais aliás, parece que na época era normal acontecer com todos os sapateiros. A uns mais que a outros. Principalmente àqueles que se metiam um pouco no tinto. Ou no branco, tanto faz.
Um dia o mestre Manel, juntamente com o seu amigo mestre Isidro, rapazes da mesma camada, pedreiro de profissão e dos bons, segundo dizem, pensaram organizar uma excursão a Lisboa. Trataram de fazer um aviso, escrito à mão e afixaram-no na taberna do ti Torcato, onde é hoje a taberna do Inácio Neves.
Ambos eram pessoas com grande espírito brincalhão e baptizaram a excursão como a “ Excursão dos Parafusos “.As pessoas inscreveram-se e entretanto, às escondidas, prepararam outro cartaz. Quando chegou o dia da partida, colocaram o cartaz na camioneta dos Belos, que dizia simplesmente isto “Excursão dos Parafusos. As Porcas Ficaram em Casa.” Lá foram a caminho de Lisboa. Pela ponte de Vila Franca de Xira, pois claro a do 25 de Abril ainda não existia.
Evidentemente, que se pode imaginar a brincadeira que foi durante toda a viagem. O pior, foi quando chegaram a casa. O que as mulheres lhes teriam dito. Claro está, que o Mestre Manel não tinha qualquer problema, pois era solteiro. Só a tia Maria podia ralhar com ele. Mas isso ele não se importava. Era irmã e a um irmão desculpa-se tudo. Para mais, pois então, tinha sido uma brincadeira que não prejudicou ninguém.
Luís de Matos
Luís de Matos
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