sexta-feira, 3 de outubro de 2008

UM CASAMENTO NAS HORTINHAS

Recordo-me que os casamentos realizados há muito tempo na Igreja Matriz , em Terena, o adro da igreja enchia-se de curiosos, homens e mulheres, sendo estas em maior número, rapazes e raparigas, todos mortinhos para assistirem à saída do casamento. Como raramente acontecia algo de especial na vila, então um casamento era sempre novidade, muito mais que um baptizado.
- Havia sempre as mulheres mais impacientes; “nunca mais saiem”.
- Devem estar a pagar ao Padre, a fazer o registo diziam algumas.
- Dizem outras; “ lá veem”.
- Faz uma noiva muito bonita, dizem umas; outras dirão “já vi melhori”.
- Olha! “trás olhos de chorar”.
- “ E que chori”. “Que mal faz. Não se faz feia por isso”…
- Há! Olha ó vestido. Reparem, assenta-lhe bem e está na moda.
- E o véu que lindo!.
- Olha Maria, e a grinalda! Linda! Bela prenda concerteza…
- Ó já tenho visto melhor dizem outras.
- Olha! E o noivo! “Rapaz desenxovalhado”. “ É bonito”…. Um pouco sério.
- “Também vem bem vestido”. “Sapato preto e fino”. “Bonito fato! . Sim senhori.
Quando os noivos passavam a porta da igreja e punham os pés na calçada branco ou azul e bordadas atiravam as amêndoas ao ar. Era ver a rapaziada do adro, logo seguidos dos Padrinhos, estes abriam as bolsas de cetim empurrarem-se uns aos outros para ver qual deles apanhava mais amêndoas e rebuçados. Alguns gritavam “prá qui, prá qui”. Outros apanhavam-nas do chão e acompanhavam os noivos como que a servirem de escolta.
Lembro-me do meu primo Alberto me dizer; Tal dia tenho um casamento nas Hortinhas. É uma prima da Joana que vai casar com o João Nunes. É um moço que é deficiente das Forças Armadas.
- É pá ! Isso faz-me logo lembrar a guerra colonial. Sabes como eu sou de manteiga para essas merdas.
- Não interessa. Eu não tenho carro e tu vás levar a gente.
- É pá …Bem, está certo.
- E ficas lá prós comes e bebes.
- Eu? Sem ser convidado?. Nem penses nisso. Não conheces o ditado que diz que a casamentos e baptizados só vão os convidados?
- Há! Isso prá li não conta compadre. É hábito que o condutor seja considerado um convidado.
- Bom, chegou o dia, lá apareci para levar o Alberto, a Joana os dois filhos (Zé e Sérgio). Quando cheguei ao local combinado já lá estava o Zé Catita e foi ele que acabou por os levar no seu velho Wolkwagem 1200 azul, enquanto o meu peugeot 104 levava outras pessoas que também não tinham transporte.
- Dizia-me o Alberto: Olha, tu levas essas pessoas que aquilo lá é tudo gente boa. Eu falo com os meus compadres, digo que és meu primo e acabou-se.
- Acabou-se não. Então não conheces o ditado que….
- Deixa-te lá de ditados! Tal é isto hã!.
Devo dizer que os familiares dos noivos foram umas pessoas extraordinárias. Da maior simpatia que pode haver. Todo o pessoal do casamento. Foi de uma simpatia extrema. Duvido que noutra qualquer localidade haja tanta hospitalidade. Isto marcou-me para sempre. Se calhar é por isso que tenho muita consideração pelo pessoal das Hortinhas. São pessoas sempre bem dispostas e sabem receber quem vem de fora.
Luís de Matos

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